A alta emissão de carbono não sai da cabeça dos pecuaristas mais conscientes, como se pode notar em um fórum realizado na Show Safra, no médio norte de Mato Grosso, nesta semana. A boa notícia é que há soluções praticadas nas fazendas dos principais pólos de suinocultura do país e que podem ser reproduzidas por todos os lugares.
Na Fazenda Seis Amigos, em Tapurah, a quase 500 Km de Cuiabá, tem uma área de 1,4 mil hectares, onde, além da pecuária bovina, são mantidas três granjas de produção, cada uma com capacidade para 4,5 mil suínos. A integração entre pecuária e sustentabilidade é uma meta antiga e as práticas começaram na fundação da fazenda há nove anos.
“Nós temos um sistema em que o dejeto não é um problema, é uma oportunidade. Você hoje pensar só a suinocultura não basta, se você fizer só a granja e esquecer do resto, talvez o suíno não se pague. Hoje, o rendimento que eu tenho com as lagoas, com os biodigestores, é um grande ganho que eu tenho aqui na fazenda”, conta Iraldo Ebertz, suinocultor.
A preocupação com o meio ambiente vai desde hidrômetros para regulagem de consumo dos animais até a transformação da água em fertilizantes naturais para os pastos. “Existe já aqui a utilização do biofertilizante, que é utilizado para a produção de feno e agora, com a implantação da pecuária de corte, está sendo utilizado mais ainda, ou seja, poder fazer o feno, você pode comercializar o bovino a pasto e engordar o bovino direto no pasto que foi irrigado com biofertilizante advindo da atividade suinícola”, explica o consultor do Ministério da Agricultura (Mapa), Cleandro Pazinato Dias.
Na fazenda, nove lagoas recebem diariamente dejetos de 19 biogestores. Um processo que diminui em até 24 vezes o potencial do gás que causa o efeito estufa. Sidney Medeiros, fiscal federal agropecuário diz que a fazenda é considerada modelo, isso “porque ela consegue aliar uma excelente produção suína, com um total aproveitamento dos resíduos na propriedade, chegando ao ponto de a atividade que foi criada a partir do uso do dejeto ser rentável quanto a própria atividade de suinocultura”.
Além da fertirrigação, a fazenda vai transformar os dejetos da suinocultura em energia elétrica. A partir de dezembro deste ano, uma central vai receber o biogás das granjas e ter a capacidade de geração de 1.2 megawatts.
“A produção de vapor nas caldeiras movimentará a turbina a vapor, em consequência disso, vai movimentar o gerador elétrico, produzindo energia para a fazenda. Com isso, nós vamos ter a fazenda autossuficiente em energia, o que também vai gerar um excedente que será injetado na rede da distribuidora na forma de compensação de energia”, explica a tecnóloga em Sistemas de Energia Gabriela Ananda Giordani.
Para o suinocultor, uma produção de suínos sem o aproveitamento dos dejetos é algo impossível de imaginar: “Eu não consigo ver, sem aproveitamento do dejeto, sem aproveitamento do biogás, ele virou uma oportunidade muito grande e com um retorno bastante significativo”.
A fazenda é uma das dezenas de propriedades visitadas por fiscais e consultores de um programa do Ministério da Agricultura que estuda boas práticas para promover a baixa emissão de carbono. O plano é um dos compromissos assumidos pelo país, na última Conferência do Clima, realizada em Paris, em dezembro do ano passado.
“Desde o ano passado, a gente vem buscando alternativas para o tratamento de dejetos na suinocultura. Então, o que a gente quer levar para os produtores é que é possível transformar o que até então é considerado um problema numa solução economicamente viável. Os fóruns estão acontecendo em todo o país, justamente para levar essas informações com análises econômicas, de viabilidade, e levar também alguns conceitos técnicos e linhas de crédito disponíveis”, indica o fiscal Medeiros.
O Brasil é o quarto maior produtor de suínos do mundo e nos últimos dez anos, Mato Grosso se colocou entre os cinco maiores produtores do país. Apesar do potencial genético e da alta produção, ainda é grande a resistência dos produtores às práticas sustentáveis. Uma meta desafiadora para quem entende os inúmeros benefícios das boas práticas para a sustentabilidade do meio ambiente e da atividade pecuária.
“Hoje, a gente não fala mais em tratamento de dejeto, e sim no aproveitamento econômico dos resíduos da produção de suínos. O produtor precisa conhecer mais, hoje existem tecnologias para todo o tipo e tamanho de granja, p,ara toda a situação de localização geográfica. O produtor só não pode desconsiderar o aproveitamento econômico desses resíduos que são muito ricos, né? Hoje, você tem a possibilidade da produção de biofertilizante, de energia elétrica. Esse aumento exorbitante da conta de energia, o aumento dos fertilizantes, estimulou muito os produtores a terem soluções como essas”, orienta Fabiano Coser, consultor do Mapa.