O governo francês confirmou, nesta semana, um caso de encefalopatia espongiforme bovina (EEB), conhecida como doença da vaca louca, numa animal de cinco anos, na região de Ardennes, no norte da França. O animal acabou morrendo. O Ministério da Agricultura francês afirmou que se trata de um caso isolado, sem consequências para os consumidores.
O caso poderia representar prejuízos à economia agrícola francesa, que já vem sofrendo com a queda no preço dos lácteos, com vários negócios ameaçados. Mas, na opinião do analista do Rabobank Adolfo Fontes, é mais uma demonstração de competência do sistema de controle sanitário do país do que um problema. “Só vamos ter uma ideia mais clara das consequências após o posicionamento oficial da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE)”.
Para Fontes, este deve ser identificado como mais um caso atípico da enfermidade, que acomete naturalmente animais mais velhos e é designado como “marcação priônica”. “Fazendo um paralelo aproximado, seria como a doença de Alzheimer em humanos”, afirmou.
Nestas situações, o contágio só aconteceria se os ossos e o sangue da vaca infectada fossem usados como ração para outros animais, o que é proibido na maioria dos países da Europa. Já a EEB clássica é transmitida por alimentos contaminados com o príon – presente em matérias-primas, como ossos e miúdos bovinos, obtida a partir de animais infectados. Os sinais clínicos da enfermidade são nervosismo, reação exagerada a estímulos externos, dificuldade de locomoção, queda na produção de leite e do apetite.
A França, assim como Brasil, tem o status de “risco insignificante” para a doença junto à OIE e, agora, terá de tentar manter este patamar. O mercado brasileiro passou por situação similar em abril de 2014, quando um caso atípico foi identificado em Mato Grosso. Na época, o Brasil conseguiu provar para os órgãos internacionais que tinha capacidade de isolar o episódio. Apesar disso, alguns países deixaram de comprar carne brasileira, o que foi sendo aos poucos reconquistado posteriormente.
“Independentemente da posição da OIE, pode haver países que se sintam no direito de bloquear a entrada da carne bovina francesa. Porém, em termos de volume, nada que signifique uma euforia para possíveis exportadores que possam preencher a lacuna”, afirmou o analista.
Segundo dados do Rabobank, a União Europeia exportou 300 mil toneladas em 2015, sendo a França um dos principais produtores. Para o Brasil, um possível ganho de mercado com bloqueios aos franceses seria a Itália. Os italianos são os principais compradores da carne bovina brasileira na Europa atualmente, com compra de 34 mil toneladas em 2013, enquanto no mesmo ano a França vendeu 92 mil toneladas para a Itália.
De toda forma, esta será a primeira vez que a França terá de provar à OIE que é capaz de isolar a doença, ressalta Fontes, já que o país conseguiu seu status de “risco insignificante” recentemente, em 2015.
Há 20 anos, um surto de BSE na Europa fez com que a União Europeia banisse as importações de carne do Reino Unido, enquanto outros países impuseram restrições ao gado de corte francês em 2000, quando carne infectada passou por todos os controles de qualidade até chegar aos supermercados. O ministério afirmou que este é o terceiro caso isolado de BSE no continente europeu desde o ano passado.