O cenário mundial para o leite deixa o Brasil em alerta. O setor está preocupado com a possibilidade de dumping, quando os países exportam com preço abaixo do praticado no mercado interno. O temor é que indústrias que estão vencendo licitações públicas estejam atendendo o governo com leite importado, o que é proibido por lei.
O aumento na produção de leite na Europa e na Nova Zelândia força os preços para baixo. Internamente, os produtores brasileiros enfrentam mais uma crise, com o aumento de 30% a 40% nos custos, além de queda nos preços que, em algumas regiões, é de até 10%.
De acordo com o presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Girolando, Jônadam Ma, os produtores estão “fazendo ginástica” para sobreviver, e muitos liquidam o rebanho para sair da atividade. “A situação do leite é caótica com o alto nível de importação de leite que está acontecendo por parte das indústrias”, diz.
Em janeiro, o Brasil importou 1.300 toneladas de leite em pó dos Estados Unidos, o que chamou a atenção do setor. Para o presidente da Confederação Brasileira de Cooperativas de Laticínios, Paulo Roberto Bernardes, o país vende caro o produto no mercado interno, e o que sobra, seria desviado para cá, por preço muito baixo “para liquidar a produção brasileira”.
Segundo o presidente da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva de Leite e Derivados, Rodrigo Alvin, o Brasil tem direito antidumping e deve ficar vigilante para regular o mercado. “Não queremos cercear nenhuma exportação de outros pais para o Brasil, mas não queremos permitir que práticas desleais de comercio sejam adotadas novamente”, afirma
Argentina
A situação atual pode ser agravada em consequência do aumento do subsídio pago aos produtores da Argentina, de cerca de US$ 0,03 por litro produzido.
Segundo Ma, o subsídio foi recentemente implantado no país vizinho e, se o Brasil exercer seu direito no Mercosul, pode exigir compensações. “Isso para que a Argentina, que é grande produtor e player do mercado, não mande leite para o Brasil para competir de modo injusto com o produto nacional”, afirma o represetante da associação.
O auxílio do governo vai aumentar a produção argentina de leite, assim como deve ocorrer com soja e carne, cadeias das quais foram retirados os impostos de exportação, sustenta o presidente da Câmara Setorial do Leite e Derivados, Rodrigo Alvin. Segundo ele, o Brasil produz hoje três vezes mais leite do que a Argentina.