O preço do litro do leite pago ao produtor caiu quase 15% em Mato Grosso. O cálculo é do Imea (Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária), que estima que a produção anual do estado é de um pouco mais de 540 milhões de litros. Essa produção está ameaçada, afinal grande parte dos produtores não está conseguindo se manter na atividade.
O milho triturado tem sido a única alternativa encontrada pelo produtor José Alves para alimentar o pequeno rebanho de 50 vacas que ainda resistem à falta de pasto na propriedade.
“O que colocar o gado come tudo e ainda fica com fome. Não tem como a gente tratar deles como é preciso, não tem renda para isso. Com esse leite desvalorizado, não tem como”, lamenta o produtor.
Por outro lado, ele comemora outro aspecto: “Ainda bem que o milho ficou com um preço razoável. Assim, teve como tratar do gado. Porque, caso contrário, iria morrer bastante gado este ano”.
Mesmo assim, o pequeno estoque de milho disputado entre os animais acaba sendo insuficiente. “O bicho morre de fome. Ninguém tem pasto e, quando tem, está seco. Penso em vender tudo e ir para cidade, porque aqui não está dando para tocar”, diz Alves.
Na avaliação do produtor, o maior motivador da crise atual é o preço pago ao produtor de leite, que não acompanhou a alta nos custos de produção.
“Mais de sete anos atrás, o preço era de R$ 0,50 e hoje está R$ 0,90. Enquanto isso, os insumos triplicaram. Estamos nos mantendo na atividade porque eu e a minha mãe somos aposentados. Senão, não teria condições”, afirma Alves.
Para o produtor Argemiro Gomes Pereira, a situação é ainda pior. Isso porque sua única fonte de renda é a atividade leiteira, que vem pagando R$ 0,87 pelo litro do leite em plena entressafra. Segundo ele, agora só resta abandonar a produção.
“Essa atividade vai passar para os grandes. Os pequenos não vão ter condições de mexer mais. Na nossa região, o leite está feio para tocar. As despesas não param: tem manutenção, reforma etc. Não tem de onde tirar dinheiro. Aí o negócio é comer as vacas e largar a mão de mexer com o leite”, diz Pereira.
O presidente da Aproleite-MT (Associação dos Produtores de Leite de Mato Grosso), Valdécio Tarsis Rezende Fernandes, cobra mais incentivos para a cadeia e uma política específica para a pecuária de leite no Brasil.
“Não temos nenhum recurso direcionado para a agricultura familiar em relação à cadeia leiteira hoje. Não temos planejamentos estratégicos. Rebanhos vêm morrendo nessa seca. Não é só a preocupação com o abandono do leite pela agricultura familiar, mas também com os laticínios, que estão trabalhando com 30% da capacidade”, diz o dirigente.