O Conselho Paritário Produtores/Indústrias de Leite do estado do Rio Grande do Sul (Conseleite) orientou pecuaristas a reduzirem a produção em 10% por animal, alegando dificuldades de rentabilidade para as duas pontas da cadeia. A notícia causou espanto e descontentamento entre produtores de uma das regiões leiteiras mais importantes do Rio Grande do Sul.
“Desde que me conheço por gente e como produtor rural, nunca vi um incentivo para a diminuição da produção”, diz o produtor Fábio Secchi. que tem plantel de 30 animais em Teutônia. Nos últimos 10 anos, ele e a esposa investiram na melhoria da atividade por recomendação da indústria. “Agora, a gente não tem como cobrir esse tipo de investimento diminuindo produção”, completa Secchi.
No mesmo munícipio, o produtor Homero Deifelt já mudou a dieta dos animais: menos ração e sal mineral. Além disso, eles ficam semi-confinados. O resultado apareceu: quatro litros a menos por vaca, diariamente. Ele fez isso também para baixar custos e tentar ter margem melhor de rentabilidade. Mesmo assim, não concorda com o pedido das indústrias.
“Vou baixar 10% da produção agora e daqui a dois meses dirão ‘ah, agora vocês podem produzir 10% a mais’… Não é uma torneira que eu vou abrir e deu! Se eu tratar a mesma quantidade de ração que eu tratava antes, não vai aumentar 10%. Vai aumentar 2% agora, mais 2% mês que vem e, no máximo, 5%, 6% de novo”, explica Deifelt.
Outra preocupação é com a redução de fertilidade da vaca, que sem a oferta de alimentação adequada, pode demorar mais que o normal para ficar prenha. “Vou gastar mais com inseminação. Meu custo vai aumentar mais ainda adiante”, afirma Homero.
Lideranças regionais discutiram hoje o assunto junto com produtores. Para eles, o pedido enfraquece e desmotiva quem produz. A presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Teutônia (RS), Liane Brackmann, diz que hoje há capacidade para industrializar 17 milhões de litros por dia, porém, são produzidos 13 milhões e ainda querem uma redução para a casa dos 11 milhões. Então, o setor ainda não está atendendo o que a indústria poderia ofertar em termos de industrialização.
“Se toda a política da importação tivesse sido freada ou equilibrada, nós não estaríamos nem cogitando nem muito menos propondo que o nosso produtor gaúcho tivesse que reduzir produção”, pontua Liane.