Leite: sem lucro, produtores mineiros deixam atividade

Aumento no custo de produção ainda é muito superior a alta dos preços e margem é pequena ou inexistente

Fonte: Alcides Okubo Filho / Embrapa

Mesmo vendendo o litro de leite a quase R$ 2,00, o produtor João Carlos Semenzi ainda tem uma margem de lucro muito pequena. Somente a energia elétrica subiu mais de 50% na virada de ano. O mesmo aconteceu com o valor do milho, devido à queda na produtividade da segunda safra. A soja também teve alta de 30%. A tonelada da silagem, que ele comprava por R$ 100,00, hoje sai por R$ 180,00. 

“Nossas margens, que não são boas ou às vezes nem existem, basicamente são iguais ou menores do que as do ano passado em função dos custos de produção. Engana-se quem pensa que em função do preço que aumentou está sobrando dinheiro no bolso do produtor”, afirma Semenzi.

A volta do período chuvoso, em setembro, marca também o início da safra de leite em Minas Gerais, e o setor teme que o aumento da produção e da oferta do produto no mercado crie um novo ciclo de baixa nos preços

“Pelo que nós apuramos com os laticínios aqui da região, vai ter uma baixa. Nós não sabemos exatamente de quanto vai ser, mas a tendência do pagamento desse mês de agosto é de preços menores”, afirma o vice-presidente da Federação de Agricultura e Pecuária de Minas Gerais (Faemg), Thiago Soares Fonseca.

Segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), em um ano, o preço do leite registrou alta de 30%. No mês de julho, o valor médio bruto pago ao produtor foi de R$ 1,50, a maior média em 16 anos. Por outro lado, o setor aponta que, no mesmo período, o custo da atividade cresceu cerca de 50%. Com a alta nos custos, alguns produtores já estão deixando a atividade e buscando outras formas de garantir renda. 

Abandono

Os mais prejudicados são os pequenos produtores. O produtor Reinaldo Fernandes, que está no setor há mais de 30 anos, conta que cansou de trabalhar no vermelho e vai deixar a atividade. “Minha fonte de renda hoje é o leite, mas não dá mais. Vou procurar um serviço fora, como casqueador, inseminador ou tentar criar carneiro”, diz. 

Mesmo no pico de colheita do milho, o preço da saca segue acima de R$ 43. Enquanto isso, o farelo de soja sai por mais de R$1.300 e a tonelada e o caroço de algodão a R$ 950. “Se isso persistir, o produtor vai deixar a atividade e nós vamos ter queda de produção”, destaca Fonseca.