União Europeia e Mercosul ainda não chegaram a uma conclusão sobre qual vai ser a cota de exportação de carne bovina entre os blocos, já que o valor oferecido pelos europeus representa apenas 5% do consumo anual, além das divergências sobre questões sanitárias e fitossanitárias que ainda estão pendentes.
A última reunião foi a portas fechadas e durou mais de duas horas, com representantes do setor agropecuário defendendo cotas maiores de exportação para a União Europeia. Para carne bovina, o bloco ofereceu 70 mil toneladas ao ano, mas o Mercosul pede 390 mil.
“Há um reconhecimento tácito por parte da negociadora europeia de que a oferta deles é muito pequena e existe a possibilidade de uma coisa mais factível, mais importante em termos de tonelagem. Isso nos deixa bastante satisfeitos nesse sentido, porque se conseguirmos realmente um número intermediário, pode satisfazer todos os membros do Mercosul, sem dúvida nenhuma”, disse o vice-presidente da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Gedeão Pereira.
A reunião tratou também de produtos industrializados, mas o setor primário dominou a pauta. A Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA) lidera um movimento que pede revisão de exigências para exportação, entre elas as imposições de barreiras sanitárias e fitossanitárias baseadas na prevalência da ciência e análise de risco e garantia de que um bloco não interfira sobre o outro em questões de políticas ambientais e trabalhistas.
“O que a CNA tem questionado, e as entidades vinculadas ao agro estão preocupadas, é que a União Europeia exija regras incompatíveis com o que existe em esfera internacional. Os Europeus têm o costume de criar regras para poder barrar o comércio interno, que são diferentes de grandes organismos internacionais. A nossa preocupação é evitar a inclusão dessas regras que sejam dissonantes do sistema internacional”, falou a superintendente de Relações Internacionais da CNA, Lígia Dutra.
Sem acordo, Mercosul e União Europeia devem promover uma nova rodada de negociações no mês que vem. O gerente de Relações Internacionais da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Fabrizio Panzini, diz que as exigências da Europa são comuns em outros acordos comerciais e não devem impedir um consenso entre os blocos econômicos.
“Esse é o bloco que mais aplica essas regulamentações técnicas. Em alguns casos, a União Europeia extrapola o que está na Organização Mundial do Comércio e, em outros, usam até o limite da entidade. É possível que se consiga harmonizar, convergir mais os padrões técnicos, sanitários e fitossanitário entre os dois blocos”, disse.
Embora o acordo entre as partes esteja próximo, setores do agronegócio avaliam que o fim das negociações previsto para em dezembro pode ser precipitado.