Oferta menor fecha nove frigoríficos em 2015

Queda na demanda por carne também prejudica setor, diz a Scot ConsultoriaA conjunção de restrição na oferta de animais e na demanda por carne bovina já causou a suspensão do abate ou o fechamento de ao menos nove unidades frigoríficas no Brasil em 2015, segundo Alex Lopes, diretor e analista de Scot Consultoria. 

– A demanda restrita dos mercados interno e externo respinga na indústria e ainda limitará valorizações na arroba. Não está fácil operar, porque a indústria paga matéria prima cara e tem dificuldade de escoar produção – disse Lopes.

Durante o Encontro de Confinamento da Scot Consultoria, em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, ele citou a redução do poder de compra do consumidor brasileiro, com a alta na inflação e a retração da economia, o que limitou consumo interno e já atinge os preços de cortes mais nobres da carne. Com isso, os cortes traseiros subiram apenas 0,4% este ano, ante aumentos de 4,5% nos dianteiros e de 9,7% nos cortes de frango e de 24,1% frango inteiro, substituto à carne bovina.

–A alta se deu por causa da venda maior de carne mais barata – afirmou.

Paralelamente, as exportações para os maiores clientes brasileiros, Rússia e Venezuela, caíram 45% em virtude da queda nos preços do petróleo, uma das principais fontes de receita dessas nações. Além disso, os preços da arroba pagos pelos frigoríficos já subiram 3,6% em 2015 e 18,9% em 12 meses.

– O resultado disso foi a redução da margem da indústria, que chegou a 20%, para 10% e também no varejo, que era de até 100%, para 50% – concluiu. 

Confinamento

No mesmo evento, o analista Rafael Ribeiro falou que o cenário de preços e de oferta de milho na atual safra do grão é favorável ao confinamento de bovinos em 2015. Segundo ele, a relação de troca este ano está bem mais positiva do que no ano passado, com uma arroba bovina capaz de comprar entre 5,4 sacas a 5,5 sacas do cereal ou quase 1,5 saca a mais que no ano passado.

–E no ano passado o cenário já foi bom em relação à troca – avaliou.

Ribeiro lembra que as estimativas apontam para uma grande disponibilidade de milho na safra, com a oferta 79 milhões de toneladas em 2014/15, pequena queda de 1,3%, ou 1 milhão de toneladas a menos na oferta de milho sobre a safra passada. O recuo, no entanto, será suprido pelo estoque de passagem recorde, de até 17,8 milhões de toneladas.

–O que o produtor tem de ficar de olho é o chamado “mercado do clima”, que pode impactar na segunda safra (que representa 62% de toda a safra) e ainda na safra norte-americana. Mas até agora a expectativa é de clima favorável – disse.

Outro fator que poderia influenciar no preço do milho ao confinador seria o dólar, que incentiva as exportações e que chegou a puxar os valores do grão no mercado interno em março, após a disparada da moeda.

–No entanto, o recuo no dólar já reduziu a alta e as exportações devem ser estáveis este ano – concluiu o analista da Scot. 

Preço

A queda estimada de 7% nos abates bovinos no começo de 2015 e a oferta já restrita de animais darão sustentação ao preço da arroba até o segundo semestre deste ano, mesmo com a restrição na demanda pela carne, de acordo com Hyberville Neto, analista e diretor de Novos Negócios da Scot Consultoria.

Com isso, o pecuarista precisa aproveitar o mercado firme e “travar (preço) ao menos uma parte do rebanho nas diversas operações do mercado futuro”.

Além da alta de 3,6% em 2015 e de 18,9% desde ano passado em 12 meses – aumento real superior a 10% – para em torno de R$ 150 a arroba, os preços do segundo semestre sinalizam para entre R$ 157 a R$ 158 a arroba para outubro na média de São Paulo – com valores correspondentes entre R$ 143 e R$ 144 em Cuiabá (MT), R$ 150 em Campo Grande (MS), e R$ 147 R$ 149 em Goiânia (GO). 

Segundo Neto, o pecuarista ainda foi beneficiado pela alta menor nos custos, com de 4,1% nos insumos para a pecuária de alta tecnologia e de 8,4% na de baixa tecnologia.

– É a melhor relação de troca dos insumos – concluiu.