Ele faz um balanço sobre o setor e aponta as perspectivas para o próximo ano em mais uma entrevista da série especial do Jornal da Pecuária, concedida ao jornalista Sergio Braga.
Canal Rural – Como foi 2014 na sua avaliação? Nós tivemos muitos avanços na pecuária aqui no Brasil e um respeito maior da comunidade internacional?
Eduardo Bastos – O balanço é excelente. A gente fez muita coisa, como a Conferência Mundial da Carne, que pela primeira vez foi realizada aqui no Brasil. Um sucesso. Nós tivemos um evento lotado e uma discussão de altíssimo nível, com o Brasil seguindo como protagonista da pecuária global.
Canal Rural – Nós já tivemos a Irlanda fazendo uma campanha totalmente desfavorável ao consumo da carne brasileira. E agora a Europa, diante dessa situação de embargo às importações para a Rússia, começa a mirar para o Brasil. Será que nós teremos a mesma novela e o mesmo enfrentamento nos próximos anos, principalmente em 2015?
Bastos – A Europa realmente está se articulando fortemente, mas a realidade é que não tem outra fonte para entregar a carne que o mundo precisa que não seja o Brasil. Os países vão ter que dialogar melhor com o nosso para fazer essa entrega necessária.
Canal Rural – E os avanços do abate, principalmente na questão da sustentabilidade? Foram muitos em 2014, deverão ser muitos mais em 2015?
Bastos – Com certeza. Neste ano, a gente já fechou mais de um milhão de hectares de projetos-piloto – a maior área em pilotos de pecuária no mundo – e para o ano que vem a gente vai aumentar ainda mais, vai expandir em Estados. Hoje, a gente tem sete projetos em cinco Estados diferentes, e a proposta para o ano que vem é aumentar isso em pelo menos mais três Estados e conseguir uma área abrangida de quase 100 milhões de hectares.
Canal Rural – Quando se fala de área de 100 milhões de hectares, ainda há aí uma área degradada muito grande a ser recuperada — talvez 70 milhões ou um pouco menos. Nós teremos possibilidade de recuperação dessas áreas e de destiná-las a uma pecuária mais pensada, mais sustentável?
Bastos – Uma parte dessas áreas vai continuar indo para grãos, mesmo com uma crise eventual no setor. O mundo também está demandando mais proteína vegetal, não só proteína animal, e proteína animal que vem de base vegetal também. Na verdade, frango e suíno precisam de soja e de milho, e o Brasil é um grande produtor e um grande exportador. Todas essas culturas, para crescerem, ou vão desmatar ou vão para área de pastagem. O caminho natural é ir para área de pastagem. Assim, a pecuária vai ter que aprender a produzir mais com uma área menor.
Canal Rural – Nós tivemos algumas experiências que já deram certo dessa forma, principalmente em integração lavoura-pecuária. É uma tendência para 2015 e para os próximos anos termos uma intensificação disso?
Bastos – A gente está trabalhando para isso, há a movimentação da academia nesse sentido e produtores demandando mais conhecimento. Em alguns Estados, isso já chegou em um nível de multiplicação, quer dizer, está saindo daquele modelo de fazendas-piloto para um modelo realmente de larga escala. Com isso, deve pelo menos dobrar a área de integração lavoura-pecuária-floresta.
Canal Rural – A taxa de ocupação ainda é pequena aqui no Brasil. A intensificação, o aumento da produção em menores áreas, o aproveitamento maior de hectares por cabeça, isso deve acontecer também? Estamos ampliando ou ainda vai continuar por uns anos essa baixa taxa de ocupação?
Bastos – É importante a gente referenciar. Não é tão baixa. A gente está falando em 1,2 cabeça por hectare, que, num modelo de produção a pasto, é um número que pode ser maior – estamos falando de Nova Zelândia, onde esse número chega a 5. Mas, se levarmos a ocupação para 1,7 cabeça por hectare, serão liberados 50 milhões de hectares para a expansão de grãos, de florestas, Código Florestal e tudo mais. É possível fazer esse trabalho, e eu não tenho dúvida: isso vai acontecer.