Em Minas Gerais, produtores de leite estão sendo levados a vender o rebanho para pagar dívidas. Os pecuaristas estão trabalhando no vermelho, pois o valor pago pelo leite não tem acompanhado o aumento no custo de produção, que subiu 20% nos últimos 12 meses.
Em Minas Gerais, principal bacia leiteira do país, com quase 6 milhões de vacas em lactação, o milho e o farelo de soja registraram alta de 35% entre janeiro de 2015 e o início deste ano. Em média o custo para produzir um litro de leite no estado varia entre R$ 0,85 e R$ 0,90, dependendo do sistema de produção.
De acordo com a Federação de Agricultura e Pecuária de Minas Gerais (Faemg), os pecuaristas recebem hoje R$ 0,98 por litro de leite, valor 3% menor que em janeiro do ano passado.
No início deste ano, o pequeno produtor Márcio Gleique vendeu quase todos os seus animais. Dedicado à pecuária leiteira há 15 anos, ele agora pensa em deixar a atividade. “Não compensa investir em algo que não dá resultado. Eu pensei que seria melhor ficar com menos vacas para ver o que acontece”, afirma.
Para o analista da Scot Consultoria Rafael Ribeiro, 2016 é um ano de incertezas e requer cautela do produtor. O cenário é de recuperação de demanda no mercado interno, devendo melhorar a partir de 2017.
“O precisa traçar uma estratégia, principalmente quanto à compra de insumos, visto que esses produtos devem seguir por mais um ano com preços elevados”, diz.
O presidente do Sindicato Rural e Uberaba, Romeu Borges, o leite vive um momento “caótico”. Segundo ele, em 2004 o boi era vendido de R$ 55 a R$ 60, a saca de soja custava R$ 58, a de milho, entre R$ 30 e R$ 32, e o litro de leite recebia R$ 1. “Hoje, estamos vendendo boi de R$ 150, milho a R$ 40, soja a R$ 78 e o leite, a R$ 0,90”, compara.
O produtor Reinaldo Antônio da Silva é testemunha dessas alterações. Ele viu o custo de produção de leite subir 30%, enquanto o valor do leite caiu 10%. Cansado de trabalhar no vermelho, ele vendeu todas as vacas e abandonou a atividade.
“Vivi toda minha vida com isso, gosto de trabalhar com isso, e sei como trabalhar. Mas hoje não tem condições”, desabafa Silva.
Romeu Borges, do sindicato, afirma que a manutenção das atuais condições ameaça a sucessão familiar no setor de leite.