A redução nas taxas de juros nos programas de inovação e tecnologia do novo Plano Safra foi comemorada pelo setor leiteiro. A expectativa agora é de que os processos fiquem menos burocráticos e facilitem acesso ao crédito.
O produtor Luciano Vieira Valim precisa construir um novo barracão de compostagem para abrigar 200 vacas. O custo beira R$ 1,5 milhão, e a conclusão da obra só será possível com ajuda do financiamento rural.
“Consigo duplicar ou até triplicar o meu volume de leite. Com o barracão, aumenta o volume de vacas alojadas e posso até diminuir meu custo por vaca”, conta o produtor.
A linha de crédito voltada para este tipo de projeto é o Inovagro. Com o novo Plano Safra é possível financiar até R$ 1,1 milhão por CPF. Dentro dos itens passivo de financiamento estão instalação, capacitação técnica, material genético e até aquisição de matrizes. As taxas de jutos, que antes eram de 8,5% ao ano foram para 6,5%. De acordo com o diretor de relações públicas da Associação Brasileira dos Criadores de Gado Zebu, Fabiano Mendonça, as condições são aceitáveis para o atual momento da economia.
“Não é o ideal, mas é o que foi possível para esse ano e já melhorou bastante em relação ao que foi o ano passado. Foi aceitável para o mercado no atual momento”, aponta Mendonça.
Outro ponto comemorado pelo setor foi a redução na taxa de juros do Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural (Pronamp). As condições de financiamento, que antes eram de 8,5% agora foram para 7,5%, com a liberação de até R$ 1,5 milhão de reais por CPF. A linha de financiamento foi inclusa no pró-genética, o programa que financia a compra de reprodutores para melhoria genética do rebanho.
“Antes fazia parte do pró-genética apenas o Pronaf, que é do pequeno produtor. Agora, isso vai trazer mais qualidade de carne para o produtor. Essa taxa e esse limite atende bem o pró-genética e considero um dos programas mais importantes da pecuária nacional”, aponta Mendonça.
Uma reivindicação dos produtores de leite de Minas Gerais é a criação de uma linha de crédito específica para produção de silagem. No início do ano, a comissão de leite da região do triângulo mineiro entregou uma carta para o ministro com o pedido. A solicitação não foi inclusa no novo Plano Safra. Luciano Vieira Valim, por exemplo, gasta R$ 2,7 mil por hectare com a produção do volume, dinheiro que poderia ser utilizado em outros projetos.
“Ajuda muito quando você tem uma linha de crédito específica, porque consigo direcionar a verba para outro lugar da propriedade e também dá mais fôlego. às vezes você precisa de um prazo maior para pagar o investimento da propriedade, às vezes a agenda financeira fica apertada”, comenta Luciano Vieira Valim.
Para o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Leite, Geraldo Borges, as instituições bancárias precisam agilizar o acesso ao crédito rural.
“Esperamos que os projetos sejam mesmo concluídos. O ministro tem falado muito em agilidade e melhor gestão. Nós e o país precisamos disso”, completou.
Pecuária
Os principais programas acessados pelos pecuaristas sofreram redução de juros. Na área de custeio, médios criadores vão poder acessar recursos com taxas de 7,5% ao ano e, os maiores, 8,5%. Já na área de investimento, as mudanças aconteceram, por exemplo, no Programa ABC, destinado à recuperação de pastagens, integração lavoura-pecuária-floresta e tratamento de dejetos animais. Essa linha passa a ter tarifa de 7,5% ao ano.
O Moderagro, muito acessado para financiar instalações de granjas, vai ficar com taxas de 8,5% e o Prodecoop, voltado à cooperativas, também 8,5%. Mas o diretor-executivo da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Luiz Cornacchioni, avalia que a pecuária – tanto de corte quanto de leite – precisa de mais atenção do governo. “Precisamos de alguma maneira incentivar, porque gera emprego, renda, divisas. Sou defensor também da pecuária além da agricultura”, afirma.
Ovinos e caprinos
O setor da ovinocaprinocultura ficou satisfeito com os anúncios por ter tido uma demanda antiga atendida. O governo incluiu a retenção de matrizes de ovinos e caprinos nas operações de custeio, com prazo estendido de até dois anos para pagamento.
Representante da Câmara Setorial de Ovinos e Caprinos, José Carlos Pires afirma que, com isso, será possível evitar o abate de fêmeas em todo o país. “O produtor vai poder fazer financiamento nos bancos, poder evitar os abates e com isso nós vamos aumentar o rebanho. Consumimos 600 gramas de carne per capita por ano de ovinos e nós importamos 60% do que consumimos. Vai ser uma maneira de contemplar o produtor e também abastecer o Brasil”, afirma Pires.