Melhorar a qualidade das pastagens resulta em maior produção sem aumento da área. A recuperação de áreas degradadas é uma alternativa com bom custo benefício. Mas é preciso fazer o manejo adequado para não voltar à estaca zero.
Pastagem boa é sinônimo de produtividade. O boi ganha mais peso e é possível colocar mais animais por hectare. O produtor Paulo Torina investe na qualidade das pastagens da propriedade no município de Saltinho, no interior paulista. Ele planta cana-de-açúcar, mas devido à baixa rentabilidade da cultura tem destinado cada vez mais espaço à pecuária.
– A gente foi obrigado a intensificar mais o pasto, para ter uma renda melhor no sítio. O que vale mais a pena, pecuária ou cana? Com certeza a pecuária. Sem dúvida. Pequenas áreas, renda o ano todo, ao contrário da cana, que é uma vez por ano – disse.
O produtor esperou o último corte da cana para entrar com o pasto em uma área de 7 hectares. Ele mandou o solo para análise antes de fazer a adubação e o plantio da forrageira. Segundo o engenheiro agrônomo Gustavo Vieira, o ideal é reformar ou implantar a pastagem nos locais mais produtivos da propriedade.
– Começando das melhores áreas, ele [produtor] evita que áreas que estão boas entrem no processo de degradação. Então, hoje, o retorno é muito mais rápido se ele começar pelas áreas mais produtivas – afirmou.
Para substituir ou reformar uma pastagem é possível fazer o plantio direto, que é mais barato e mais sustentável.
– A gente recomenda o plantio direto ou mesmo a sobressemeadura para substituição da forragem existente. Com isso, a gente consegue evitar perdas de solo e consegue também melhorar a estrutura desse solo a longo prazo – disse Vieira.
Após a escolha da forrageira adequada, o processo de manejo é muito importante para a conservação do pasto. Um simpósio realizado pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq) discutiu como manejar as pastagens para aumentar a produtividade dos rebanhos.
– Se a pastagem for formada de uma maneira correta, uso de boas sementes, adubação de formação, e primeiro pastejo numa época adequada, você já tem o primeiro passo para manter a produtividade das pastagens. Durante a vida útil da pastagem, como eu mencionei, ela pode ser eterna, porque a pastagem é uma cultura perene – disse o pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental, Moacyr Dias Filho.
O Brasil tem 168 milhões de hectares de pastagem. Estudos mostram que metade está degradada ou com baixa produtividade. A integração entre lavoura e pecuária é uma alternativa para recuperar áreas improdutivas. A rotação pode aumentar a produtividade do rebanho e da plantação.
– A pastagem começa a nascer em solos mais férteis, aumenta os rendimentos da pecuária, aumenta as lotações, as produções, etc. A agricultura se beneficia, porque quando você roda com pecuária, a pecuária te traz coisas que você não consegue reproduzir somente com sucessões de culturas, soja, milho, algodão. A pecuária te traz coisas diferentes. Eles melhoram vários aspectos do solo: aspectos químicos, aspectos físicos, aspectos biológicos – disse o professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Paulo César Carvalho.
Existem até linhas de crédito especiais para quem aderir ao sistema ou apenas recuperar o pasto da propriedade. Mas é preciso conscientizar o produtor que busca o financiamento a não descuidar do manejo.
– Ele coloca uma lavoura por uns dois anos e depois o pasto em seguida. Só que aí o manejo do pasto continua sendo o mesmo o de antigamente, o pasto daqui um tempo vai se degradar – explicou o pesquisador da Embrapa Gado de Corte Roberto Giolo.
Quem consegue melhorar a qualidade do pasto não se arrepende do investimento.
– Hoje aumentou em 80% a lotação, a qualidade, a engorda, a manutenção do gado no inverno, praticamente do dia pra noite – afirmou o produtor Paulo Torina.