Canal Rural – Será que em 2015 teremos um ano de mais sobressaltos ou um ano mais equilibrado?
Alexandre Mendonça de Barros – É estranho para um pecuarista, que está vivendo um momento espetacular da pecuária, com alta de preços etc., que a leitura da macroeconomia seja o inverso disso. Acho que 2014 marcou o fim de um modelo de desenvolvimento que deu errado. A macroeconomia brasileira tem todos os indícios de que está fora do lugar, com exceção do emprego, que até agora, veio se sustentando. Mas a inflação, beirando o teto da meta, com riscos sempre permanentes de passar por cima do teto da meta. Vimos os juros subir, estamos projetando 0,2% de crescimento econômico, que é baixíssimo. Um déficit nas transações com o resto do mundo que é enorme, mais de US$ 80 bilhões. Com risco de as agências internacionais rebaixarem o Brasil, se enxergarem um descontrole nas contas públicas.
A economia estava com uma enorme incerteza, existia uma candidatura de oposição dizendo que deveria que teria que fazer ajustes, a situação dizia que daria pra tocar no mesmo modelo. E agora, com a nomeação de um novo ministro, mais ortodoxo, é de se esperar que tenhamos um 2015 indo na direção de um ajuste. E o ajuste é recessivo, é bom que se diga. Provavelmente, terá que haver ajuste de gastos, provavelmente alguma coisa em tributos vai acontecer, então não é de se esperar para o ano que vem um grande crescimento econômico. Pelo contrário, não me assustaria se tivéssemos um crescimento do desemprego. Isso tende acontecer conforme o ajuste acontecer. Agora, 2015 será um ano não muito diferente deste ano. A inflação ainda seguirá razoavelmente alta, porque demora para essa inflação cair, nós seguiremos com déficit nas contas externas, porque você não corrige isso da noite para o dia. A situação fiscal vai na direção de ajustar as contas públicas. Mas possivelmente nós vamos ter uma consequência batendo no emprego.
Canal Rural – Nós teremos um dólar mais elevado?
Barros – A gente acha que, independentemente de qualquer ajuste que seja feito na economia, a tendência é a de o real se enfraquecer diante do dólar. Esses R$ 2,60 que estamos vendo no dólar, acho que é mais ou menos por aí. Talvez agora, com o novo ministro, um momento de mais alegria por parte do mercado, com maior valorização do real. Mas quais são os fundamentos que devem manter esse real desvalorizado? De novo: isso é muito bom para a pecuária, dado que os preços internacionais da carne vermelha estão muito firmes por causa da oferta.
Canal Rural – E o consumo interno de carne vermelha?
Barros – Esse acho que é o ponto bom. Quer dizer, o câmbio deve seguir desvalorizado porque nós perdemos termos de troca, ou seja, nossas exportações perderam valor relativamente ao que a gente compra. Ele deve se manter desvalorizado porque os Estados Unidos devem subir juros, pois o crescimento americano finalmente está voltando. Então, há uma mudança de perspectiva macroeconômica favorecendo o câmbio, portanto, as exportações. Entretanto, o desenho do mercado interno não é tão bom, porque se a gente estiver correto, se o emprego sofrer um pouco como ele já vem dando sinais de que vai sofrer, isso torna mais difícil repassar preço para o mercado interno. Então provavelmente nós vamos ver um setor dividido, com margens boas nas exportações, e margens apertadas no mercado interno, pela dificuldade de transmitir esse preço ao consumidor brasileiro.