A eleição nos Estados Unidos se desenha mais acirrada do que as pesquisas previam, de acordo com o comentarista Miguel Daoud. Isso porque, apesar de o democrata Joe Biden aparecer à frente nos votos apurados, o republicano Donald Trump ainda tem chances de alcançá-lo no número de delegados. “Estamos em um empate técnico”, analisa.
Mas o que importa mesmo para o produtor rural brasileiro é o que muda na relação comercial entre Brasil e Estados Unidos dependendo do vencedor, além de o impacto na guerra comercial entre os norte-americanos e os chineses.
De acordo com o CEO da BMJ Consultores, Wagner Parente Filho, caso Donald Trump consiga se reeleger, a tendência é que os EUA continuem com a política protecionista, concedendo subsídios a setores que competem com a produção brasileira no mercado internacional. Porém, o Brasil não sofreria pressão nas questões ambientais.
Se Biden vencer, os norte-americanos devem continuar sendo subsidiados e o Brasil passaria a sofrer com cobranças sobre a preservação ambiental. O candidato democrata, inclusive, já externou que vai pressionar “países que não cuidam do meio ambiente”.
De uma forma ou de outra, os produtos brasileiros devem continuar encontrando dificuldade para acessar o mercado norte-americano. “Muito pouco se refletiu em ganho de mercado a aproximação de Bolsonaro com Trump. Pelo contrário, vimos uma pressão muito grande, como no caso do etanol, em que tivemos que aumentar a cota para o produto americano em detrimento do nosso”, diz.
Indefinição gera problemas
Como uma parte considerável dos eleitores norte-americanos decidiu enviar o voto pelo correio, o nome do próximo presidente dos Estados Unidos pode demorar dias até ser conhecido. Para piorar, se Joe Biden vencer, Donald Trump disse que vai entrar com recurso na Suprema Corte para anular os votos contabilizados após o dia 3. Por conta da pandemia da Covid-19, os Estados Unidos decidiram que votos enviados até o dia da eleição serão levados em consideração.
Segundo Parente Filho, esse cenário de incerteza pode gerar instabilidades muito fortes no mercado de câmbio, prejudicando o produtor brasileiro que trabalha com hedge.