Por solicitação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, o Conselho Monetário Nacional (CMN) aprovou nesta quinta-feira, 30, em reunião ordinária, medidas que beneficiam o setor agrícola, especialmente a agricultura familiar. As decisões foram anunciadas pela ministra Tereza Cristina em suas redes sociais e serão apresentadas a autoridades e representantes de entidades do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina em videoconferência.
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Entre as medidas está a redução da taxa de juros para agricultores prejudicados pelo ciclone bomba na região Sul entre os dias 30 de junho e 1° de julho de 2020. O CMN deu autorização aos agentes financeiros para que os agricultores familiares enquadrados no Pronaf, cujas atividades foram prejudicadas pelo ciclone, possam acessar o crédito de custeio e investimento com as taxas de juros mais baixas aplicadas ao programa (2,75% a.a.), no decorrer de todo o ano agrícola 2020/2021.
Apesar dessa decisão, segundo o comentarista Miguel Daoud, o produtor rural só terá acesso a esse benefício se houver uma cooperação dos bancos. “Eu admiro a luta do Ministério da Agricultura para tentar alguma coisa junto ao governo, mas eu diria que mesmo com todo o esforço do ministério, essa é uma medida paliativa e que não resolve o problema do produtor rural que está postergando o seu endividamento. Ele [produtor] vai ter uma grande dificuldade junto aos bancos para tentar negociar, pois terá que provar uma série de coisas. Os bancos farão exigências, como estão fazendo, para poder permitir que ele sente na frente do gerente para negociar”, falou.
Para Miguel Daoud, a situação atual do agronegócio brasileiro diante de uma crise mundial fará com que muitos produtores abandonem a atividade. “Não vamos ser hipócritas de achar que isso vai resolver o problema do produtor rural. Há anos estamos vendo um acúmulo de dívidas dos produtores rurais e, do jeito que estamos, eles não vão sobreviver. A política liberal não funciona no Brasil, porque o país precisa atender uma população. Manter o trabalhador no campo com uma remuneração adequada, no frigir dos ovos, é mais vantajoso para o país. Mas o Brasil não tem essa visão”, lamentou.
“O que vejo é que esse modelo de agropecuária vai eliminar muita gente do setor, levando esse produtor para a rede de proteção social. É preciso de uma visão estratégica para o agro, mas não temos isso”, concluiu o comentarista.