A chuva começa a espalhar pelo Brasil novamente a partir desta quarta-feira (26), com uma frente fria que vai romper o bloqueio atmosférico. Já não há previsão de tantas áreas com precipitação abaixo da média como na semana passada.
No Norte e no Nordeste, linhas de instabilidade associadas a um Vórtice Ciclônico de Altos Níveis e a Zona de Convergência Intertropical deixam o tempo mais fechado e chuvoso a partir do meio da semana também. Embora o acumulado previsto não seja tão elevado, esperam- se chuvas mais persistentes em Mato Grosso e Goiás a partir da sexta-feira (28), diminuindo o ritmo de colheita nos dois estados.
Além disso, a partir da quinta-feira (27), a frente fria vai estacionar entre o norte de Santa Catarina e o litoral do Paraná, organizando chuva no oeste e sul de Mato Grosso do Sul e interior paranaense. A precipitação chega tarde para os estados, pois muitas lavouras já não conseguem alcançar seu potencial produtivo. A temperatura máxima promete cair para menos de 20 °C em Curitiba na sexta-feira, valor que foi visto pela última vez no dia 9 de janeiro. No Rio Grande do Sul, apesar da mudança do tempo e queda de temperatura, a chuva será bem mais irregular.
Chuva na próxima semana
Na semana que vem, a chuva mais intensa que o normal continuará pendendo para o lado sul do Brasil, alcançando o Paraná, Mato Grosso do Sul, São Paulo, sul e sudeste de Goiás e o Espírito Santo. Por outro lado, o Norte, Mato Grosso e parte do Matopiba vão receber menos chuva que o normal.
“Aliás, a previsão para fevereiro é de chuva acima da média no norte do Rio Grande do Sul, em Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul, sul de Goiás e de Mato Grosso, em Minas Gerais e Espírito Santo”, diz Celso Oliveira, meteorologista do Agroclima.
Já boa parte das regiões Nordeste e Norte terão menos chuva que o normal e calor acima da média histórica. Apesar do La Niña, a temperatura do Oceano Atlântico não será elevada o suficiente para a migração da Zona de Convergência Intertropical pela costa norte do país.
Avanço da colheita de soja e o plantio do milho segunda safra
A colheita da soja em Mato Grosso avança dentro da média dos últimos cinco anos, alcançando pouco mais de 13% das áreas instaladas, de acordo com o Imea. No Paraná, a colheita alcançou 4% das áreas. Mais da metade das áreas a serem colhidas estão em condições medianas ou ruins. No Rio Grande do Sul, 30% das áreas estão em floração e 7% em enchimento de grãos. Há plantas que estão morrendo pelo calor e pela estiagem ainda no início de desenvolvimento. Além do Rio Grande do Sul e Paraná, há perdas pela estiagem em Santa Catarina e em Mato Grosso do Sul.
No milho, um bloqueio atmosférico formou-se sobre a Argentina e impede o avanço das frentes frias chuvosas pelo Brasil. No Sul, a situação pouco mudou, já que a região passa por estiagem desde novembro. Porém, Sudeste, Centro-Oeste, Norte e Nordeste viram as precipitações enfraquecerem consideravelmente nos últimos dias. O novo cenário ajuda a acelerar a colheita da primeira safra e a instalação da segunda safra.
Em Mato Grosso, a instalação vai acontecer de forma bem mais antecipada que no ano passado. De acordo com o Imea, 1,57% das áreas foram instaladas. No Paraná, de acordo com o Deral, boa parte da colheita da primeira safra de milho vai acontecer no início de fevereiro. A tendência é de perdas significativas pela estiagem. Além disso, 2% da área total estimada foi instalada com a segunda safra de milho.
No Rio Grande do Sul, de acordo com a Emater, o tempo seco e quente acelerou o processo de maturação e secagem dos grãos. Por consequência, a colheita alcança 27% das áreas instaladas. As perdas pela estiagem são maiores em áreas não irrigadas no norte, centro e oeste do Estado. De acordo com a Conab, o desenvolvimento da primeira safra de milho é bom em São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Bahia, Piauí e Maranhão.
Além de milho e soja, outras culturas como arroz, feijão e hortaliças sofrem com o calor e a falta de chuva no centro e sul do Brasil e o excesso de chuva no Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste. Isto traz impactos à inflação. No café, a Conab estima produção maior neste ano por conta da bienalidade do arábica, afinal o conilon sente menos o efeito bienal.
“A geada de julho trará consequências para esta safra, mas a chuva da primavera e verão foram bem mais bem distribuídas que no período anterior”, prevê Celso Oliveira.
Este La Niña está mais forte que o da safra passada?
Essa é uma pergunta que muitos estão fazendo por conta das diversas intempéries climáticas acentuadas. Segundo especialistas, o problema não é nem a intensidade mas a continuidade do fenômeno. Este La Niña é mais fraco, mas por ser o segundo ano consecutivo do fenômeno, mesmo com menor intensidade, há mais perdas no Sul, especialmente no Rio Grande do Sul. Isso acontece pela persistência da seca.
No primeiro ano, a umidade do solo ainda está razoavelmente elevada e permite uma produção. Já no segundo ano, a umidade do solo já começa baixa pela estiagem do ano anterior.
Em 2010, o Rio Grande do Sul sob El Niño teve uma produção média de milho de 4.904 kg/ha. Em 2011, sob o primeiro La Niña, a produção de milho até aumentou um pouco e chegou a 5.259 kg/ha. Já em 2012, sob o segundo ano seguido de La Niña, a produtividade caiu para 3.133 kg/ha. Também há influência da temperatura do Atlântico, que em 2022 não está tão elevada para organizar frentes frias no estado.