A China suspendeu a habilitação de 22 frigoríficos internacionais que exportam ao país. Quatro plantas brasileiras foram afetadas pela decisão, de acordo com a consultoria Agrifatto, sendo duas de abate de bovinos e duas de suínos, localizadas no Rio Grande do Sul e Mato Grosso. Também foram afetadas unidades da Alemanha, Austrália e Holanda, entre outros.
A Agrifatto avalia que apesar de a medida trazer mais tensão ao mercado, o Brasil é líder em número de plantas processadoras de forma que o risco de um bloqueio com efeitos maiores é diluído e pode manter o fluxo de embarques em nível normal.
Impacto em empresas brasileiras e nos preços
A XP Investimentos afirma em relatório que a JBS e a Marfrig contam com um grande número de plantas habilitadas e não dependem de nenhuma delas isoladamente. Apesar disso, a avaliação é de que os fechamentos temporários podem provocar volatilidade das margens no curto prazo.
O Citi Bank vê a notícia como “pouco negativa” para JBS e Marfrig, pois ambas ainda podem redirecionar a distribuição de volumes exportados para outras plantas habilitadas. De acordo com o banco, a Marfrig possui sete plantas de carne bovina habilitadas enquanto que a Seara (JBS) possui 13 plantas de aves, contando com as suspensas. Os analistas do Citi, projetam que as notícias de embargos chineses podem aumentar a percepção de risco para outras empresas exportadoras de proteínas, como BRF e Minerva.
De acordo com a estimativa do Citi, as exportações para a China (excluindo Hong Kong) representaram cerca de 20% das vendas da Minerva em 2019, 10% da Marfrig e 5% da JBS e BRF.
O mercado futuro reagiu às notícias com baixas ao longo da curva na parte da manhã desta terça-feira, 30, porém, perto das 13h13 (horário de Brasília) essas quedas já eram menos acentuadas. Segundo levantamento preliminar da Scot Consultoria, os preços no mercado físico seguiam firmes e em alta.
O que dizem os analistas de mercado
O analista da Radar Investimentos Leandro Bovo destaca que dentro do universo geral de plantas brasileiras, as suspensas representam uma participação muito pequena e que a produção pode ser redirecionada para outras plantas habilitadas. Dessa forma, o impacto no curto prazo tende a ser bastante limitado.
Já o analista da Safras & Mercado Fernando Iglesias ressalta que o mercado físico não tem apresentado grandes impactos dessas medidas, com os preços se mantendo firmes. Ele acredita que pode ser uma medida da China para tentar renegociar preços, mas que a competitividade da carne brasileira é muito alta frente a outros players.
O diretor da Scot Consultoria, Alcides Torres, acredita que as medidas tomadas visam preservar o setor de exportação. Ele ressaltou que os frigoríficos têm tomado todas as medidas de prevenção, tanto para sanidade do alimento quanto dos funcionários.
Cesar de Castro, consultor de agronegócio do Itaú BBA, projeta que o setor deve se preocupar apenas caso mais frigoríficos sejam suspensos, pois a dependência da China é muito grande. Com apenas quatro plantas afastadas, o fluxo de embarques não deve ter impacto significativo. Porém, Castro ressalta a importância do produtor se proteger dos riscos no mercado futuro.
A diretora do Agrifatto, Lygia Pimentel, destaca que a medida foi tomada em nível global e que o problema não é novo, pois algumas plantas não habilitadas já haviam paralisado suas atividades anteriormente em decorrência de aumento de casos da Covid-19. Ela afirma que essa interrupção foi resolvida de maneira natural e que a previsão é que o mesmo ocorra com as plantas habilitadas para exportar para a China suspensas neste momento.
Em relação à tendência, Lygia Pimentel projeta manutenção do fluxo de embarques e diz que a grande pulverização de plantas no Brasil dilui o risco e capilariza o problema. Porém, ela ressalta que essa é uma análise de mercado e que a relação com a China ainda depende de um componente político difícil de prever.
Quanto aos cuidados que o produtor deve ter, a diretora da Agrifatto acredita em manutenção dos preços firmes ao longo do segundo semestre, mas lembra que o risco é elevado, sobretudo devido a fatores políticos. Dessa forma, a recomendação é que pecuarista busque a comercialização antecipada através de hedge no mercado futuro.