A cultura de café é a mais afetada no Brasil. Nesta sexta, dia 23, o Conselho Nacional do Café (CNC) alertou que a safra do ano que vem pode ser comprometida com o baixo índice de vegetação dos cafezais no país devido ao tempo quente e seco. Segundo a entidade, o tempo adverso tem resultado em um baixo número de internódios – intervalo entre as gemas de crescimento do caule para a formação dos grãos da colheita futura. O CNC informou que informações recebidas indicam de cinco a seis internódios, ao passo que deveriam ter se desenvolvido entre oito e dez.
– Normalmente, a previsão é que, ao final de março, os internódios cheguem a 15, mas isso será impossível no atual cenário, o que, certamente, impactará negativamente na safra do ano que vem – afirmou a entidade em nota.
O conselho reiterou expectativa de que o Brasil colherá em 2015 um volume menor do que o projetado pelo governo: “O passar dos dias e a continuidade da falta de chuvas, das elevadas temperaturas e do déficit hídrico no cinturão cafeeiro do Brasil vem tornando ainda mais preocupante a situação das lavouras e transparecendo que colheremos um volume aquém do intervalo de 44,1 milhões a 46,6 milhões de sacas projetadas”.
De acordo com o CNC, os principais Estados produtores de café arábica estão em situação “alarmante”, haja vista que as condições climáticas estão parecidas com as de 2014. “Além disso, este ano, as lavouras de café robusta no Espírito Santo também preocupam. Relatos de institutos de pesquisa apontam que há mais de um mês não chove nas principais regiões produtoras de conilon (robusta) do Estado e já se registra falta de água para irrigar os cafezais devido aos baixos níveis nos reservatórios.”
O CNC lembrou ainda que contratou a Fundação Procafé para apurar em campo as perdas que o veranico atual deverá ocasionar na colheita deste ano. As chuvas esperadas para os próximos dias nas áreas produtoras não impedirão que o mês de janeiro seja encerrado com volume acumulado de chuvas abaixo da média histórica, destacou o CNC. Isso associado a elevadas temperaturas, “justamente na fase crítica de enchimento dos grãos de café”. A colheita de café arábica do Brasil de 2015 começa em meados do ano.
Segundo a Somar Meteorologia, uma frente fria sobre o Sudeste canaliza a umidade da Amazônia e causa chuva forte sobre São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Goiás, Distrito Federal e Mato Grosso, com acumulado médio entre 30 e 50 milímetros até 27 de janeiro. Entre 28 de janeiro e 1º de fevereiro, a chuva mais intensa permanecerá sobre o Sudeste, com acumulado médio entre 30 e 50 milímetros em São Paulo, Rio de Janeiro e centro e sul de Minas Gerais.
Soja
A Agroconsult reduziu ontem sua estimativa para a safra de soja no Brasil devido à falta de chuva na primeira quinzena de janeiro no Sudesde, Centro-Oeste e Nordeste do país. A consultoria revisou a produção para 93,93 milhões de toneladas, ante as 94,8 milhões de toneladas da projeção de dezembro. O diretor da Agroconsult, André Pessoa, destaca que Minas Gerais, Goiás, Bahia e Piauí são as regiões mais problemáticas. A entidade reajustou para cima os Estados do Sul do Brasil. Rio Grande do Sul, Santa Catarina, e Paraná, e também Mato Grosso do Sul tiveram as estimativas aumentadas.
A safra 2013/2014 de soja no Brasil foi de 86,12 milhões de toneladas. Para a safra 2014/2015, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima uma colheita recorde de 95,92 milhões de toneladas, número constestado por outras entidades.
De acordo com o agrometeorologista da Somar Meteorologia, Marco Antonio dos Santos, as lavouras de soja de Goiás e de Minas Gerais devem ter perdas de, no máximo, 20%. Segundo ele, os plantios ocorridos na segunda quinzena de setembro em Mato Grosso, que estão em época de colheita agora, apresentam produtividade de 53 sacas por hectare. As lavouras semeadas entre os dias 25 de outubro e 10 de novembro, que representam 40% das plantações do Centro-Oeste e de Minas Gerais, mostram as maiores perdas, já que desde o início de janeiro estão na fase de enchimento de grãos; as plantadas após 20 de novembro ainda não apresentam quebra significativa. Com o calor, os índices de pragas também aumentam. A Fundação MT já lançou alerta para a alta presençã de mosca branca em Mato Grosso.
Já na região Oeste da Bahia e no sul do Piauí, as perdas poderão chegar aos 25%, porém, com o retorno da chuva entre quarta, dia 21, e quinta, 22, as lavouras devem ter uma ligeira melhora nos índices de produtividade. No Paraná, segundo maior produtor de soja do Brasil, a colheita avançou para 4% da área plantada na última semana, sob influência do tempo seco de janeiro. Segundo o economista da Departamento de Economia Rural (Deral), Marcelo Garrido, o ciclo de desenvolvimento das lavouras foi antecipado em algumas regiões pelo o calor e o tempo mais seco nos últimos dias favoreceu o trabalho de colheita no Estado. O Paraná espera um recorde de 17,07 milhões de toneladas de soja na atual temporada 2014/2015, alta de 17% ante 2013/2014. O Deral estima que 89% das lavouras de soja do Paraná estão em boas condições, mas sinaliza possíveis problemas em função das altas temperaturas, já que algumas lavouras estão na fase de preenchimento de grãos.
Milho
Já o milho primeira safra foi afetado pela constante precpitação da primavera e do início do verão no Sul. Marco Antonio dos Santos lembra que quase 10% das áreas colhidas no Rio Grande do Sul estão com índices de produtividade abaixo do normal. A tendência, segundo ele, é de melhora devido à previsão de No Paraná e em Santa Catarina, as lavouras que estão sendo colhidas apresentam bons rendimentos, muito semelhantes a média histórica. No Sudeste e no Centro-Oeste, as reduções serão significativas em grande parte das lavouras.
– A mesma situação está sendo observada nas áreas produtoras do Mapitoba. As perdas deverão superar os 25% em todo essas três regiões do Brasil. Mesmo com o retorno das chuvas, as perdas são irreversíveis. Assim, a produção de milho primeiroª safra deverá sofrer reduções significativas esse ano – pontua.
Para o milho segunda safra, o padrão irregular de chuvas e os baixos índices de umidade do solo geraram paralisações no plantio em todo o Centro-Oeste, mas com o retorno das chuvas, a tendência é que o plantio se intensifique nas próximas semanas.
– Vale ressaltar que o atraso no plantio da soja esse ano e, consequentemente, um atraso na colheita, poderá resultar um prolongamento do plantio do milho safrinha, sendo que algumas regiões deverão avançar o plantio ao longo do mês de março. Dessa forma, tais lavouras semeadas após o dia 5 de março irão necessitar que chuvas venham a ocorrer no mês de maio e segundo os modelos de previsão de longo prazo não é isso que deverá ocorrer. Tais modelos indicam que as chuvas deverão ficar muito abaixo da média no mês de maio em todo o Brasil – acrescenta Santos.