A situação econômica da Rússia está revertendo parte dos ganhos que o Brasil conquistou diante da crise entre o Ocidente e Moscou. No mês passado, as vendas nacionais para o mercado russo caíram 44,2%, depois de registrar alta de 16% e 12% em setembro e outubro, respectivamente. O setor de commodities foi o mais prejudicado neste fim de ano, com queda de 50%.
Em agosto, a União Europeia adotou o maior pacote de sanções contra Moscou desde o fim da Guerra Fria. As medidas tinham a meta de forçar o presidente Vladimir Putin a desistir de apoiar separatistas na Ucrânia. Mas, em retaliação, o governo de Moscou fechou seu mercado para as exportações agrícolas da Europa e dos EUA.
Para substituir os produtos fornecidos pelos americanos, principalmente a carne, a Rússia foi buscar alternativa no Brasil e na América do Sul. Por isso, no acumulado do ano, as exportações brasileiras à Rússia estão 32% acima do valor de 2013. No setor de carne suína, a alta é de 117%; no de frango, de 120%.
De acordo com Fernando Turra, presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), a tendência de alta já começou a se reverter – reflexo direto da piora das condições da economia russa.
Mercado
O dia começou com o anúncio de alta na taxa de juros da Rússia, que está em 17%. O rublo tomou fôlego de manhã e durante todo o dia sofreu queda. O preço do barril do petróleo ficou abaixo de US$ 60,00, o pior nível dos últimos cinco anos. A moeda registrou a pior queda desde a crise financeira de 1998, à medida que a confiança no banco central evaporava após uma ineficaz elevação da taxa de juros.
O rublo começou a ser negociado cerca de 10% mais forte ante o dólar após o banco central russo elevar os juros em 6,5 pontos percentuais, mas reverteu ganhos e caiu a mínimas recordes, levando a desvalorização ante o dólar neste ano para mais de 50%.
O presidente Vladimir Putin culpou especuladores e o Ocidente pelas quedas no preços do petróleo e do rublo. Um rublo fraco representa um enorme teste para Putin, já que isso impulsiona a inflação.
– O banco central (russo) terá grandes dificuldades para estabilizar o rublo enquanto continuarem as fortes vendas generalizadas de petróleo –disse o economista do Danske Bank Vladimir Miklashevsky, em nota.
O BC já gastou cerca de US$ 80 bilhões para defender o rublo neste ano até agora. O país ainda tem cerca de US$416 bilhões de dólares em reservas internacionais. Em 1998, o rublo sofreu um colapso em questão de dias, forçando a Rússia a declarar moratória de sua dívida. Embora as finanças públicas e as reservas internacionais sejam muito mais saudáveis agora do que em 1998, analistas dizem que o país está à beira de uma crise total do câmbio.
De acordo com a analista de mercado Lygia Pimentel, a crise vivida pela Rússia por conta do petróleo e da política de Putin exerce uma pressão adicional sobre as exportações brasileiras de carne bovina.
– As exportações já não foram boas em novembro, em relação a outubro, e há um risco claro de diminuírem (ainda mais) as exportações – disse a analista.
Ela firma que ainda há projeção de preços mais altos no mercado interno para 2015, mas as expectativas teriam sido revisadas nesta útima semana, com perspectiva de maior inflação no primeiro trimestre do ano que vem.
Indonésia
Além de perder terreno na Rússia, os exportadores brasileiros têm dificuldades para negociar a entrada do frango na Indonésia. Ontem, a diplomacia brasileira iniciou consultas na OMC com o governo de Jacarta por causa das barreiras impostas sobre o frango nacional. Segundo Turra, os indonésios não trouxeram qualquer tipo de proposta concreta e apenas indicaram que querem negociar. Tudo indica que o caso será levado aos tribunais.
*Com informações da Reuters