O presidente Jair Bolsonaro reforçou nesta quinta-feira, 3, que as questões do novo coronavírus e o desemprego não podem ser tratadas de forma separada no Brasil e defendeu o afrouxamento das regras de quarentena. O presidente afirmou que “em uma canetada” pode autorizar o retorno às atividades dos comerciantes que, segundo Bolsonaro, é um dos setores mais afetados com as medidas tomadas por alguns governadores.
“Eu tenho um projeto de decreto pronto para ser assinado, se for preciso, por considerar como atividade essencial toda aquela indispensável para levar o pão para casa todo dia. (…) Enquanto o Supremo e o Legislativo não suspenderem os efeitos do meu decreto, o comércio vai ser aberto. É assim que funciona”, disse.
Na opinião do comentarista Miguel Daoud, as declarações do presidente não foram felizes. “Afrouxar a quarentena é um risco enorme para o Brasil. Acho que o presidente não deveria ter dado essas declarações, pois ele coloca em xeque o seu próprio governo no combate ao coronavírus”, disse.
Daoud diz que há uma preocupação com a recente perda de popularidade do presidente Bolsonaro. “Ele vai acabar ficando com seus 30% que sempre o apoiam, mas essas atitudes acabam detonando os seus canais de diálogo com o Congresso, o que não é bom.”
Ele cita o exemplo dos EUA, que voltaram atrás e decidiram optar pelo isolamento para enfrentar a doença. “O vírus não mata todo mundo, mas se não estabilizar o contágio, acaba afetando os hospitais. As pessoas que morrem são por falta de leito, de atendimento”, opinou.
Economia
Apesar de todo o risco da saúde pública, é preciso também ficar de olho na economia, defende Miguel Daoud. “Presidente, a bolsa estava caindo mais de 5% hoje. As empresas que estão na bolsa são as que empregam as pessoas, e elas estão perdendo a capacidade de se financiar. Para se ter uma ideia, tivemos uma saída na casa dos R$ 70 bilhões do Brasil somente em 2020. A falta de entendimento dentro do próprio governo afasta os investidores do Brasil e esse é um problema muito mai prejudicial do que o isolamento em si”, falou.
Para Daoud, se o Brasil agir corretamente no mês de abril, talvez possa pensar no afrouxamento da quarentena como foi feito em outros países.