Desde 2013, o governo chinês está deliberadamente desacelerando a economia do país, alegando que o ritmo visto nas últimas três décadas é insustentável. Os dirigentes estão mudando o foco do país de investimentos e exportações para consumo interno, e garantindo que este movimento será suave.
Os planos da China estão fazendo os economistas de todo o mundo tentar prever qual será o “novo normal” da atividade econômica nos próximos anos. Um estudo realizado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) aponta que o Produto Interno Bruto (PIB) deve desacelerar da alta de 7,4% registrada em 2014 para uma expansão de 6,9% em 2016, crescendo 7% neste ano.
A situação preocupa muitos países que dependem dos chineses para vender produtos. Um levantamento realizado pela agência de notícias Associated Press com 30 economistas mostra que mais da metade deles (57%) espera que a desaceleração prejudique o crescimento de diversos países, incluindo Brasil, Chile, Austrália e Coreia do Sul.
Considerando que a China é o principal parceiro comercial do Brasil desde 2009, e que quase metade do que é vendido são produtos agropecuários, é possível imaginar que uma perda de ritmo do parceiro resulte em prejuízos aos produtores de grãos. A conclusão, porém, é descartada pelo analista de mercado Vlamir Brandalizze, que cita a recente decisão chinesa de mudar a sua política de produção de alimentos como um fato positivo.
Segundo ele, o plano original da China era alcançar entre 90% e 95% de autossuficiência na produção de oleaginosas, mas por causa dos problemas ambientais que esse aumento causaria, o país decidiu manter a expectativa para 85% até 2020. Atualmente, a produção chinesa corresponde cerca de 80% de sua capacidade.
– A China produz 600 toneladas de grãos, mas consome 700 toneladas, então ela precisa importar. Ela vai continuar importando, porque não tem como avançar com a produção, por ter vários problemas – afirmou ele em entrevista ao Mercado e Cia.
Esta situação, combinada com a perspectiva de menor produção dos Estados Unidos nos próximos anos, beneficia os produtores brasileiros de grãos e também de carnes, além dos argentinos, afirma Brandalizze.
– Quem faz planejamento de médio e longo prazo pode ficar tranquilo, eles vão continuar comprando – diz.