O dólar chegou a bater R$ 4,31 nesta sexta-feira, 7, maior valor desde a criação do Plano Real. De acordo com a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, o início começou bastante complicado, cercado por fatores que não estavam no radar do mercado.
Primeiro, o mundo viveu a tensão de um confronto entre Estados Unidos e Irã, após o general Qasem Soleimani ser morto em um bombardeio americano. Depois, foi o surto de coronavírus na China quem acendeu um alerta. “O mercado esperava que ao longo da primeira semana de fevereiro a situação fosse ser um pouco mais controlada, mas o noticiário não dá folga”, diz.
Além disso, o desempenho das exportações do Brasil para a China em janeiro aquém do esperado também pesaram sobre a taxa de câmbio. Camila reforça que o déficit não foi causado pelo coronavírus, sendo reflexo de um movimento sazonal. “A China antecipou a demanda para antes do Ano Novo lunar, que aconteceu em janeiro”, afirma.
Porém, segundo a economista, com a notícia do cancelamento de embarques por parte da China, o mercado começou a projetar uma nova depreciação, em fevereiro, o que significa menos ingresso de capital estrangeiro.
Gangorra: juros descem, dólar sobe
Desde que o Banco Central começou a reduzir a taxa básica de juros da economia, Selic, a consultoria registrou recuo no investimento estrangeiro, já que o Brasil perdeu atratividade para quem lucrava com isso. “Isso contribuiu para o dólar acima de R$ 4”, comenta. “O câmbio a R$ 4,15 é uma realidade para os próximos 12 meses”, completa.
Mas o patamar de R$ 4,30 não deve se manter, afirma Camila. Ela pede cautela, pois o governo chinês está tomando algumas medidas para aparelhar sua economia que não estão tendo repercussão. “Acreditamos que tão logo a situação seja controlada ou o noticiário diminuir, o câmbio deve se recuperar [recuar]”.