A região de Santa Rosa abriu a colheita do trigo, no Rio Grande do Sul. Os produtores aproveitam o tempo bom para intensificar os trabalhos, avaliar a qualidade do produto e os impactos da geada que atingiu as lavouras no final de agosto.
Os preços estão atrativos, realimentando as expectativas dos produtores do estado que buscaram no trigo uma alternativa para equacionar as dificuldades econômicas com a estiagem da safra de verão.
O produtor Elton Froehlich plantou 40 hectares de trigo na safra 2020/2021, no município de Santo Cristo, região Noroeste do Rio Grande do Sul . As variedades precoces sentiram mais os efeitos da geada de agosto, prejudicando o desenvolvimento da lavoura.
“Estamos iniciando a colheita do trigo, variedades não tão precoces, mas que também sofreram muito com a geada. Esperamos atingir produtividades em torno de 25, 30 sacas [por hectare]. Com as cultivares mais precoces, as perdas foram maiores. Então, acreditamos que ficando nesta produtividade, de 25 a 30 sacas, poderemos com o valor do trigo pagar as despesas, mas a expectativa de rentabilidade em cima da cultura do trigo, deste ano, foi a chance de prejuízo. Ela, hoje, é muito maior, do que de ganhar dinheiro, do que sobrar alguma coisa. Vamos ficar contentes se conseguir fechar as contas . Essa seria a meta da cultura do trigo”, disse.
Ele diz que trabalha no sistema de rotação e vem plantando todo o ano, em função da cobertura de palha. “Ficamos com a expectativa de, às vezes, poder ter alguma rentabilidade. Como somos pequenos produtores, não temos muita alternativa a não ser plantar e esperar ter um retorno financeiro com a cultura, mas ocorrem as intempéries climáticas, então temos que lidar com elas também”, completou.
A colheita também avança na propriedade do Arcione Magnani, que fica no município de Santa Rosa. Ele semeou 53 hectares de trigo nesta safra e está colhendo prejuízo. “A geada nos prejudicou muito. O trigo é uma planta que não deixa rentabilidade para o produtor nos últimos anos, mas é uma forma de garantir uma boa palhada. Lavoura limpa para implantar a soja, depois, mais tarde, na época de fim de outubro , novembro, que é o plantio da soja”
Aos poucos, os prejuízos com a geada começam a aparecer com a colheita. De acordo com a Emater, na regional de Santa Rosa, que reúne 45 municípios, a perda estimada na produtividade do trigo é de 40% e os produtores já solicitaram cobertura do seguro agrícola.
“Nós temos uma área total de 224 mil hectares de trigo plantados na região. Neste momento, nós estamos em torno de 10% da área colhida. Estas primeiras áreas, nós temos percebido que foram um pouco mais afetadas pelas geadas, estão variando bastante, mas a média é em torno 35% a 40% de redução na produtividade. Por outro lado, essa redução é um pouco compensada pela elevação no preço pago ao produtor rural. E esperamos também que a cultura, implantada um pouco mais tarde, que começa a ser colhida no mês de novembro, sofra um pouco menos os impactos da geada. Nós temos, até o momento, em torno 1.100 de solicitações de cobertura do Proagro, ainda assim a maioria, o grão renascente tem qualidade para a indústria”, disse José Vanderlei Waschburger, gerente regional adjunto Emater Santa Rosa (RS).
O diretor técnico da Emater, Alencar Rugeri, acredita que ainda é difícil medir o tamanho exato do impacto nos números finais da safra de trigo, no Estado. “A cultura do trigo no Rio Grande do Sul está com 2% da área colhida e temos uma grande variação em termos de rendimento, que ainda não nos possibilita termos a real dimensão das perdas que ocorreram. Temos diferenças de produtividade, temos uma boa demanda de Proagro, mas é muito cedo para ter um parâmetro de qual é a dimensão das perdas que nós teremos no Rio Grande do Sul”, disse.
Os produtores gaúchos plantar mais trigo, nesta safra. A área aumentou quase 21% em relação ao ano passado, com a expectativa de bons preços na comercialização e também como alternativa para recuperar os prejuízos com a safra de verão. Segundo o coordenador da Comissão de Trigo da Farsul, Hamilton Jardim, na área de 940 mil hectares, é possível colher uma safra de 2,5 milhões de toneladas. “Com produtividade, o que é muito salutar porque nós vamos ter trigo para entregar para os moinhos gaúchos e também para exportar para outros estados e, inclusive, para outros países. Muitos contratos foram feitos e dessa maneira para que os produtores tenham renda, os preços estão muito bons frente aos custos de produção”, disse.
Para o engenheiro agrônomo do Departamento de Economia Rural da Secretaria da Agricultura do Paraná, Carlos Hugo Godinho, o cenário, neste início de colheita, está favorável para o produtor de trigo. “Hoje, a gente tem a saca comercializada a R$ 62,00 , esse valor é 8% superior ao mês de agosto e 30% superior ao mês de setembro do ano passado. Quando comparado com o custo de produção, a gente tem um custo , hoje, estimado na casa R$ 48 a saca, o que significa mais de 30% de rentabilidade do produtor. E isso nós estamos especificando em cima dos preços de setembro. Já em outubro, a gente está vendo um patamar ainda maior de preços , principalmente, em função dessa oscilação forte que a gente tem visto do dólar, mas também das cotações internacionais , que tem se valorizado em função de alguns problemas climáticos, em zonas produtoras. Todo esse cenário se faz muito favorável a comercialização do produto pelo produtor” , finalizou.