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Mercado e Cia

Inflação dificulta planejamento e compromete renda do produtor rural

Economistas falam sobre os efeitos da alta de preços de insumos sobre a atividade agropecuária e o que precisa ser melhorado para diminuir a volatilidade

A inflação causa danos não só para a economia de um país, mas afeta diretamente o setor produtivo, pois dificulta o planejamento e compromete o cálculo da rentabilidade, de acordo com o economista Roberto Troster.

“O planejamento vira um caos. Você produz e não sabe quanto vai pagar pelos insumos e quanto vai conseguir pelos seus produtos. Isso afeta também a taxa de juros, você não sabe a que custo você vai conseguir dinheiro ou aplicar dinheiro, então todo o sistema de preços da economia brasileira e todas as economias de mercado estão baseadas em uma economia estável”, diz.

O teto da inflação estipulado pelo governo para 2021 está em 5,25%, mas o mercado financeiro já prevê que o índice ultrapassará a meta. Isso porque a inflação acumulada nos últimos 12 meses já chega a quase 7%.

“Se tudo der certo conforme as previsões, vai acabar o ano em 5,50%, o que é muito. Mas, se não acontecer nada, também poderemos ter uma outra surpresa, no outro sentido, e a inflação baixar para menos de 5%. Agora, essa incerteza é muito ruim”, diz.

Como resolver o problema da inflação?

Segundo economistas, a inflação se explica pela combinação de dois fatores: aquecimento das exportações de commodities e o câmbio. A oferta reduzida de grãos no mercado interno pressiona toda a cadeia de proteína animal e outros produtos que dependem deles.

“Não vejo a curto prazo muita solução. Vamos fazer o quê? Reduz imposto de importação, maravilha. Reduz para tentar chegar mais grãos aqui para o pessoal do Paraná, Santa Catarina, que tem a criação de aves e suínos, é super importante. Vai refrescar muito? Não vai refrescar, o câmbio é o mesmo para todo mundo e o milho está caro lá fora. Não tem para onde fugir”, afirma Felippe Serigati, economista da FGV.

Serigati pede que o Brasil não tente adotar “soluções mágicas e extremamente erradas” como foi o caso da Argentina, que decidiu restringir as exportações de carnes para controlar os preços em seu mercado interno. “Isso pode até dar um alívio a curto prazo, mas deixa uma conta muito amarga no médio a longo prazo”.

Na visão do economista da FGV, o melhor remédio para o preço elevado é o próprio preço elevado. “É um incentivo a mais para que os produtores produzam mais, por exemplo. Com uma margem melhor, com o preço mais elevado, o pessoal vai investir em tecnologia, vai investir em variedade, aumento de produtividade. Chega a uma quantidade maior de produto no mercado fazendo com que o preço retome sua trajetória de equilíbrio de longo prazo”.

Muito além de quanto se compra e quando se vende

Troster destaca que não é só a oferta e a demanda que ditam o rumo da inflação, também é preciso tratar dos custos de produção. “Você tem que trabalhar nas outras variáveis, custo de energia , infraestrutura”, exemplifica.

Cerca de 85% da energia do Brasil depende do clima. Com a falta de chuva, o nível de vários reservatórios ficaram baixos. O governo federal já anunciou emergência hídrica em cinco estados do Centro-Sul.

“Isso significa mais uso de energia mais cara e mais poluidora. O Brasil precisa ter uma política de longo prazo para energia, especialmente as bioenergias, que não podem ficar refém do ir e vir do dólar e da política de preços”, afirma Troster.

Além disso, para controlar a inflação é preciso um equilíbrio fiscal nas contas públicas, o que será um desafio, principalmente depois do auxílio emergencial pago de R$ 300 e com um ambiente político extremamente polarizado.

“O que vai sair dessa reforma tanto administrativa quanto tributária não sabemos, provavelmente vai sair algo mais desidratado. No entanto, olhando para o final de 2022 , um governo novo, ou uma gestão nova, mesmo sendo do mesmo governo tenha uma renovação do seu capital político o que ganha mais musculatura para aprovar essas reformas”, diz Serigati.

Roberto Troster critica a política cambial do país e classifica como “roleta russa”. Segundo ele, o produtor depende muito mais do que acontece no mercado cambial do que acontece na lavoura dele.

“O real é a moeda mais volátil no mundo e não tem sentido continuar insistindo nessa política cambial. O dólar não tem muito espaço para subir, os fundamentos indicariam o dólar abaixo dos R$ 5 reais, a R$ 4,80, algo próximo desse valor. Isso depende muito de como está organizada hoje a estrutura cambial e do rito político em Brasília, algo totalmente imprevisível no Brasil de hoje”, pontua.

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