A pandemia do novo coronavírus veio para tirar da atividade muitos produtores de leite do Rio Grande do Sul que já estavam amargando prejuízos. Além da crise atual, eles já sofriam com o preço pago pelo litro do produto e com a severa estiagem que atingiu o estado, reduzindo a disponibilidade de comida para o gado.
“A gente consegue fazer uma leitura de que produtores que estão abaixo dos 400 a 500 litros por dia têm uma dificuldade maior”, diz o secretário-executivo do Sindicato da Indústria de Laticínios e Produtos Derivados (Sindilat), Darlan Palharini.
Esse não é o caso do pecuarista Ezequiel Nólio, que produz cerca de 4.000 litros por dia. Há 40 anos na atividade, ele não cogita deixá-la. “Não me vejo fora da atividade, porque não sei fazer outra coisa. Sou especialista no que faço, tenho muito conhecimento da atividade e do meu negócio”, afirma.
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Anos atrás, Nólio se deparou com um problema comum da atividade: a falta de mão de obra qualificada. A solução encontrada foi automatizar a propriedade, usando robôs na ordenha das vacas. “Automatizar também ameniza problema de sucessão familiar e êxodo rural. A visão que se tinha de que o produtor precisa acordar na madrugada é passado”, frisa.
Questionado se o investimento alto dá retorno, o produtor afirma que não só financeiramente como na qualidade de vida. “Antes, faltava horas no dia para terminar toda as tarefas. Hoje, trabalho com leite até meio-dia e tenho todas as tardes livres. O retorno se dá em cinco a seis anos, variando para mais ou para menos dependendo do preço do leite”, diz.
Nólio conta que os lucros ficaram enxutos nos últimos anos, porém, com as mudanças a fazenda não chega a operar no vermelho. “A gente automatizou a propriedade e eliminamos a mão de obra. Antes éramos eu e mais dois, agora somos eu e os robôs. Duas pessoas a menos impacta muito nos custos e no rendimento no fim do mês”, comenta.
Em meio à crise gerada pela Covid-19, o pecuarista vê oportunidade para se inventar. Investindo mais em tecnologia, ele espera aumentar a produção para até 6.000 litros por dia até o fim do ano ou até dobrá-la. “Estamos nos especializando, aumentando o pavilhão para acomodar as vacas secas, vacas pré-parto, maternidade e maternal 1 e 2, onde os bezerros serão alimentados pelas máquinas, sem precisar de seres humanos”, conta.
Todo o trabalho de Nólio tem um propósito muito claro, segundo ele: “Para que assim que o leite voltar a engrenar, estejamos um passo à frente dos demais”.