A expectativa de quebra de produtividade no milho deixa agricultores de Mato Grosso apreensivos em relação aos contratos antecipados. A falta do produto disponível e a valorização do grão no mercado podem dificultar as entregas e comprometer a rentabilidade da safra.
O produtor rural Jorge Piccinin Filho terminou o plantio de 4.600 hectares de milho no fim de março. Metade da área ficou fora da janela ideal, e os talhões mais tardios já sentem os reflexos da baixa umidade do solo.
“As últimas chuvas vieram bem isoladas, manchadas, Tem áreas com 15 dias sem chuvas, e a gente está bem preocupado porque as previsões agora, durante mais uma semana, não são muito boas e já está estimando perdas”, conta Piccinin.
Na região do Araguaia, a irregularidade da chuva também preocupa os agricultores. “Aqui, na região de Querência, as chuvas são de pancadas. Não é uma chuva mais geral. Consequentemente, vai atrasar o pendoamento, vai precisar de chuvas até mais tarde”, diz Olimar Schneider.
As lavouras de milho plantadas na parte leste do estado também têm sido castigadas pelo déficit hídrico. Na fazenda do produtor Robson Weber, em Paranatinga, os índices de umidade dos últimos 35 dias não passaram de 70 milímetros. Nas áreas mais prejudicadas, a estimativa de perdas de produtividade é de até 70%.
“Infelizmente, o agricultor vive de uma empresa a céu aberto. Temos que acreditar que vai chover. Se não chover, com produtividade menor, vai faltar o grão para cumprir o contrato. A gente fez em um preço menor, e não tendo grão para cumprir esse contrato, vai ter que ir buscar milho no mercado para comprar e cumprir o contrato, caso tenha quem venda também esse milho para cumprir esse contrato e com certeza vai pagar o preço do dia. Isso vai acabar aumentando o custo”, diz Weber.
Em Sorriso, no médio-norte de Mato Grosso, a baixa oferta de chuva no campo também gera apreensão, principalmente quanto às entregas do que foi negociado antecipadamente.
O agricultor Gabriel Lenz cultivou 2.200 hectares do grão e quase metade da plantação sofre com o estresse hídrico. Nas áreas mais prejudicadas pela seca, a produtividade pode cair 50%.
“Estamos com 60% da produção vendida a um valor médio de R$ 32 por saca. Estimávamos uma produção de 100 sacas por hectare. A preocupação, agora, é de não conseguir produzir pelo menos as 60 sacas vendidas e ter que pagar washout dos contratos ou ter que comprar milho no mercado, que está a R$ 80 por saca”, lamenta Lenz.
Segundo o presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), Fernando Cadore, a situação é bastante preocupante. “Somos um estado que vende muito antecipado, temos de 60% a 70% desse milho vendido, e essa janela ficou em torno de 15, 20 dias atrasada e o estado tem 45 % do milho semeado fora da janela. Depende de chuvas em abril e maio para consolidar essa segunda safra. Se não chover nos próximos dias, esta situação pode ficar bem complexa”, pontua.