A nuvem de gafanhotos que assustou produtores rurais da Argentina e destruiu uma lavoura de milho deve se aproximar da fronteira oeste do Rio Grande do Sul em breve. De acordo com o chefe da divisão de defesa vegetal do Rio Grande do Sul, Ricardo Augusto Felicetti, os técnicos do estado estão monitorando o deslocamento da nuvem de gafanhotos, através de informações do Serviço Nacional de Saúde e Qualidade Agroalimentar do governo argentino.
Entenda
O pesquisador da Embrapa Soja Adeney Bueno explica que os gafanhotos são pragas que sempre existiram. Porém, o aumento populacional acontece principalmente pela falta de inimigos naturais, gerada pelo uso de agroquímicos. Além disso, o tempo quente e seco também favorece o aparecimento.
No Brasil, o especialista ressalta que algo deste tipo não ocorre há pelos menos três safras. “Na região do Maranhão, áreas de cultivo do Matopiba já registraram gafanhotos devido ao clima seco, mas na hora que melhorou a umidade, o surto sumiu naturalmente”.
Assim como na Argentina, os gafanhotos podem causar grandes prejuízos às lavouras do Brasil. Segundo a Embrapa, estes insetos migratórios que estão em grande quantidade podem causar desfolhas nas plantas e, dependendo da quantidade, podem gerar 100% de perdas em lavouras. “O que tiver verde na frente eles comem. Mato, lavoura, milho, pastagem, o que tiver na época”.
Ele enfatiza ainda que caso o surto realmente chegue em lavoura do Brasil, é esperado que os danos sejam severos já que a praga possui difícil controle. “Por se moverem rapidamente e em grande quantidade, não se permite uma resposta rápida do produtor, o controle químico é geralmente difícil porque o produtor nem tem tempo”.
Controle
Como não há medidas eficientes no controle do clima, Bueno ressalta a importância da preservação de inimigos naturais dos gafanhotos na lavoura, através do manejo integrado de pragas e doenças.
Ele comenta que em alguns casos, o uso de agrotóximos nas lavouras acaba prejudicando a preservação de outros organismos que são benéficos, como aves e sapos. “A preservação do agrossistema equilibrado depende de nós e vai ajudar a diminuir ocorrência dos surtos”.
Manejo de pragas
Em casos como este, a Embrapa recomenda realizar o manejo em larga escala. Adeney cita o uso de fungos, por exemplo, mas comenta que as medidas não são tão eficientes.
“Por isso, a gente precisa tomar medidas a mais longo prazo, que é ter um cultivo em que sejam adotadas recomendação para manejo de pragas e doenças e uso de agrotóxicos. Alguns países adotam manejo de patos e aves mas não há evidência científica disso”, comenta.