O feijão passa pela pior escassez em época de entrada de safra. Segundo o Instituto Brasileiro do Feijão, o déficit entre dezembro e março deste ano chega a 8 milhões de sacas e a possível falta do produto vai manter o preço do tipo carioca acima dos R$ 200,00 a saca de 60 quilos em todo o país, explica o analista de mercado da Correpar, Marcelo Lüders ao programa Mercado & Cia.
“Tem todas as premissas para que isso aconteça. Nós tivemos alguns problemas durante janeiro, mais graves ainda no momento do pico de colheita, agora nós tivemos um pequeno intervalo em que a demanda diminuiu um pouco e há mais oferta, mas o feijão é comercial”, analisa.
Lüders aponta que os produtores esperam por uma melhora na qualidade dos grãos nos próximos dias com a promessa de sol na região Centro-Oeste. Porém, para ele, o aumento na oferta que isso acarretará não deve resultar em uma grande queda de preços, “de maneira nenhuma”.
Após a seca em Goiás, grãos com excesso de umidade e ataques da mosca branca, produtores na região Centro-Oeste, entre o Distrito Federal, região de Cristalina (GO), região de Unaí e Paracatu (MG), pediram, pela manhã desta segunda-feira, dia 1, de R$ 220, 00 a R$ 230,00 por uma mercadoria de boa qualidade. Mas ainda não há compradores neste nível.
Já em uma mercadoria com manchas, o valor variou muito, de R$ 170,00 até R$ 190,00 a saca de 60 kg. Apesar de parecer bom, Lüders alerta que o preço não compensa diante dos custos. “A gente sabe que qualidade mais baixa implica também em produtividade mais baixa”.
Quem se organiza para o plantio da próxima safra precisa se preparar para desembolsar mais pela semente de feijão. O analista aponta que esse é apenas mais um dos produtos que o agricultor terá que pagar mais caro. “Ele tem todos os insumos dolarizados, se for uma lavoura embaixo de irrigação nós sabemos o preço da eletricidade… A mosca branca e toda a despesa que se faz, aplicação dos inseticidas, enfim. Tudo isso tem um custo crescente. Todo mês tem subido o valor desse produto. E o produtor fica muito inseguro, inclusive, sobre investimentos que ele vai fazer em feijão com esses custos.”
Alguns especialistas apontam que essa insegurança, observada na última safra, levou a uma diminuição da área plantada e, junto com condições climáticas desfavoráveis, pode ser responsabilizada pela atual alta nos preços. Lüder afirma que a câmara setorial do feijão tentou, por três vezes, marcar uma reunião com a ministra do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Kátia Abreu, mas sem sucesso.
“Infelizmente a câmara setorial nunca viveu uma situação como nós vivemos agora nos últimos meses. Três vezes foram pedidas audiências com a ministra e não foi atendido”. Ele coloca que um dos pontos a serem abordados era a diminuição do preço mínimo, que ocorreu em junho.
O analista de mercado explicou que a ação fez com que muitos produtores se perguntassem “se o governo não acredita no mercado de feijão, por que eu vou apostar?” e isso, atrelado aos efeitos do El Niño e aumentos de custos, teria ajudado a formar o cenário atual.