Desde dezembro de 2019, quando foram reportadas na China os primeiros casos de infecções pelo novo coronavírus, para combater a disseminação da doença e seus efeitos sobre a saúde de seus habitantes, os governantes dos países têm adotado medidas de restrição de circulação de pessoas e mercadorias.
Segundo estudo semanal realizado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, as limitações de atividades econômicas, por sua vez, têm levado o Fundo Monetário Internacional (FMI) e governos a revisarem para baixo as projeções de crescimento da economia global, com alastramento de suas consequências, inclusive sobre o comércio mundial, que deve recuar em 2020 frente ao ano anterior.
No início da quarentena na China e com a paralisação das atividades, houve queda anualizada, até o primeiro bimestre de 2020, de 13,5% da produção industrial e de mais de 20% nas vendas do varejo, segundo o Escritório Nacional de Estatísticas (BNS). Desse modo, o país asiático também reduziu o ritmo de importações em 4% e das exportações, em 17%, no acumulado de janeiro a fevereiro de 2020
Em março, as diminuições foram menores, de 6,6% nas exportações de 0,9% nas importações totais. E, para este mês de abril, a perspectiva é de que o país retorne à “normalidade”, caso não haja problemas de novas ondas de infecções.
“Embora agentes portuários tenham relatado ocorrência de paralisações e atrasos na liberação de cargas nos portos chineses nos primeiros meses de 2020, a participação das exportações brasileiras para o país superou os 28%, um recorde para o período, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex). Esse resultado teve contribuição de um importante setor do agronegócio, o do complexo soja”, revela o estudo.
Importações
Em relação às importações chinesas dos produtos do agronegócio brasileiro, houve certa redução em janeiro, com recuperação em fevereiro e com mais força em março. No acumulado de janeiro a março, as exportações brasileiras do agronegócio ultrapassaram os US$ 21 bilhões, valor muito próximo ao registrado no primeiro trimestre de 2019
(com pequena redução de 0,4%).
Ainda, a China manteve sua parcela de 34% de participação nesse total, semelhante à observada em 2019. Outros destinos que também sofrem com o alastramento da doença e ainda mantêm medidas de restrição à economia, como os países da União Europeia e os Estados Unidos, também mantiveram sua participação nas compras dos produtos brasileiros, de em torno de 17% e de 7%, respectivamente.
Soja
Em termos de produtos, os do complexo da soja representaram 35% das vendas externas do agronegócio de janeiro até março, as carnes, quase 19%, os florestais, 13%, o açúcar, quase 7% e o café, 6%. Os produtos do complexo da soja, florestais, café e do setor têxtil conseguiram superar as vendas externas, em termos de valor, no agregado do
primeiro trimestre de 2020 em relação ao mesmo período de 2019.
O agronegócio é considerado setor essencial da economia e as projeções para 2020 têm sido mais animadoras do que para outros setores. A safra de produtos importantes como a soja, que está em final de colheita, deve ser recorde, e a oferta de outros produtos, como açúcar, milho e café, deve ser elevada.
“Desse modo, a expectativa é de recuperação das vendas externas do agronegócio ao longo do ano, o que já se verificou em março, com a paulatina volta à normalidade das atividades econômicas na China e à medida que os principais parceiros do agronegócio brasileiro também consigam conter o agravamento da pandemia. Há, inclusive,
perspectivas de que as vendas dos produtos do complexo da soja superem os valores dos embarques de 2019, conforme último relatório do USDA”, diz o centro de estudo.
Em março, também houve a abertura de novos mercados, principalmente carnes, fruto de um esforço do Ministério da Agricultura (Mapa), que tem atuado para garantir o abastecimento doméstico e elevar as vendas externas do setor, mesmo durante a pandemia.
Carnes e frutas
O setor de frutas e carnes podem apresentar algumas dificuldades, no curto prazo, principalmente em relação à logística, uma vez que agentes que trabalham nos portos têm relatado problemas com a disponibilidade de contêineres refrigerados para que os embarques desses produtos ocorram normalmente.