Diversas tradings ligadas à Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) receberam uma carta, na sexta-feira, 11, da SOS Cerrado, organização não governamental integrada por 159 empresas internacionais. No documento, a coalizão dá um ultimato: não querem comprar soja de áreas desmatadas a partir de dezembro de 2020.
De acordo com o presidente da Abiove, André Nassar, mesmo não sendo compradoras diretas da soja brasileira, essas empresas são importantes para a cadeia. Ele cita nomes conhecidos no Brasil, como Nestlé, Danone, McDonald’s, Carrefour e Unilever. “São empresas que compram ração ou proteína animal e produtos lácteos. A importância delas é inegável”, diz.
Apesar disso, as tradings ligadas à Abiove não vão aceitar as exigências, principalmente por ser algo “imposto” e “abrupto”, segundo Nassar. “Não dá tempo de o produtor se adaptar e implementarmos, paulatinamente, essa política”, conta. “Se colocássemos a essas empresas a obrigação de ir além da lei brasileira, elas não ficariam nada felizes. Não adotaremos essa data de corte”, complementa.
O presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil), Bartolomeu Braz, rechaça a tentativa de moratória no Cerrado. Ele cobra que essas empresas respeitem a soberania brasileira. “É respeito às leis brasileiras, aos produtores rurais e ao interior do país”, diz.
Braz afirma que “chegou a hora de parar de falar desse assunto”. Para ele, que a Europa busque outros fornecedores se não estiver satisfeita. “Não dá ficar mais desta forma, sofrendo pressões”.
A Aprosoja Brasil deve se articular junto à Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) para que o governo federal cobre que essas empresas respeitem as regras do país, estabelecidas pelo Código Florestal.
- Por conta do clima, Minas Gerais deve ter produtividade menor na soja
- Em 2020, Brasil já registra mais casos de ferrugem asiática do que em 2019
Futuro da soja brasileira
O presidente da Abiove afirma que está claro o movimento da Europa de não querer comprar soja plantada em áreas desmatadas. “Ganhou força entre as indústrias de suprimentos e há um movimento da comissão europeia para criar regulamentações”, diz.
Nassar acredita que o produtor brasileiro vai ter que buscar o fim do desmatamento, mesmo o legalizado, caso queira continuar com esses mercados. “Mas o produtor tem que ser estimulado a expandir a produção em áreas já abertas”, frisa.
Ele reforça que a Abiove não vai aceitar uma moratória com data retroativa. Se for acordado o fim do plantio de soja em áreas desmatadas, que seja para áreas desmatadas a partir de uma data futura.
Isso vai impedir o avanço das fronteiras agrícolas?
A Abiove não acredita que o fim do desmatamento legal na cadeia da soja seja um inibidor de desenvolvimento, já que em muitas regiões, o produtor tem aproveitado mais áreas abertas, como pastagens degradadas.
Outro ponto que precisa ser ajustado é o controle do desmatamento ilegal, que cria uma falsa relação entre a produção agrícola e os problemas ambientais.