O plantio da safra de grãos dos Estados Unidos está em ritmo acelerado frente à média dos últimos cinco anos, tanto para a soja quanto para o milho. Porém, mesmo com o avanço do plantio, os dois fatores que continuam ditando os preços dos produtos são as compras da China e o dólar elevado, que corrige os valores no Brasil.
Enquanto isso, os preços internacionais negociados na Bolsa de Chicago giram em torno das mínimas de US$ 8,30 por bushel de soja e US$ 3,20 por bushel de milho. “Precisamos de uma variável de clima pela frente para mudar esse ambiente na bolsa”, comenta o analista da Safras & Mercado Paulo Molinari.
Como é comum em anos de plantio precoce, o potencial produtivo dos EUA é grande. Porém, Molinari relembra a safra de 2012, que também tinha essa característica, mas acabou sendo frustrada pela falta de chuvas a partir de junho. “Foi o maior corte de produção. Então, até agosto, temos mercado clima que pode mexer com os preços”, pontua.
A Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA) dos Estados Unidos confirmou que existe chance de La Niña no verão de 2021. Porém, segundo o analista, o fenômeno não costuma afetar a produção de grãos nos Estados Unidos. “Mas essa transição de neutralidade para La Niña pode trazer algumas mudanças nos mapas [meteorológicos] do verão americano, que ainda não estão aparecendo e podem surgir no meio do caminho. Talvez os meteorologistas possam realmente apontar isso de uma forma melhor daqui alguns dias, mas o fato é que julho e agosto são os meses-chave para safra americana e é lá que nós teremos que concentrar nossas atenções”, ressalta.
Preços e tendências
Molinari afirma que os prêmios dos grãos nos portos brasileiros estão muito altos se comparados à situação econômica global. “E só se justificam pela demanda da China, que teme uma segunda onda de covid-19 e problemas em países fornecedores. Ela está montando um grande estoque de grãos”, diz.
Questionado sobre o que vai ditar os preços do milho nos próximos meses, o analista destaca que uma possível safra recorde nos EUA, de mais de 400 milhões de toneladas, pode dificultar altas nos preços internacionais. “No Brasil, temos ainda 30 dias de clima, mas a hora que entrar a safrinha no mercado, a partir de julho, terá que convergir para as exportações. Precisamos tirar mais de 30 milhões de toneladas do mercado brasileiro este ano. Os preços de exportação comandarão o mercado de julho até o fim do ano”, diz.
Já no caso da soja, pesará o tamanho da safra americana, a demanda chinesa e os possíveis efeitos de um La Niña no segundo semestre sobre a produção sul-americana.