O setor de pescados vê a demanda despencar a aponta o pior resultado para uma páscoa em anos. A quarentena provocada pela Covid-19 coincidiu com a quaresma, período que representa 30% do faturamento anual de pescados no país.
O mercado de pescados no Brasil representa R$ 20 bilhões por ano, sendo que 65% do volume de vendas tem como destino bares e restaurantes, um setor duramente prejudicado pela quarentena, já que tiveram que fechar as portas ou restringir o funcionamento em vários pontos do Brasil.
“As vendas que foram feitas aos restaurantes, bares e hotéis não estão sendo pagas. Consequentemente, as indústrias que venderam ficaram sem fluxo financeiro e também estão com dificuldade de honrar com a matriz produtora que são as embarcações”, disse o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Pescados (Abipesca), Eduardo Lobo.
Esse impacto da quarentena foi sentido pelo criador de tilápias e dono de um pesque e pague no interior de São Paulo. Wagner Camis teve que parar as operações e não sabe o que fazer com os peixes que ainda estão na água ou com os nove funcionários, que ficaram sem função. “A situação é bem grave, pois nós estamos no setor primário e somos obrigados a continuar alimentando. Nossos custos não pararam, não dispensamos nenhum funcionário e não está fácil tocar a atividade”, disse.
Exportações
Quando o assunto é exportação, o prejuízo também já está consolidado. Segundo o diretor da Sea Food Brasil, Ricardo Neves Torres, houve um colapso nas transações. “ O Brasil é líder no mercado americano em atum. Com o colapso do segmento de restaurantes nos Estados Unidos e também na China e em outros países parceiros , esses segmentos exportadores ficaram praticamente sem clientes. Isso provocou um colapso das atividades, desde a captura da pesca até a comercialização, deixando a indústria, fornecedores, logísticas, intermediários e distribuidores pelo caminho.”
O impacto é ainda maior, porque a quarentena coincide com a quaresma, período que representa 30% do faturamento anual de pescados no país. Para o setor, a Páscoa tem a mesma importância que o Natal tem para o setor de presentes, por exemplo.
“Tanto o produtor, quanto os pontos de comercialização não estão muito preocupados com a margem de lucro. Neste momento, todos querem sobreviver”, disse Neves Torres.
Na Ceagesp, segunda maior central de comercialização de pescados da América Latina, com 200 toneladas por dia, a queda no movimento foi de 40% e a comercialização ficou restrita ao período da madrugada.
Para conseguir sobreviver ,a Abipesca fez uma lista de pedidos ao Ministério da Agricultura para os próximos 120 dias. Como além de linhas de crédito, isenção e redução de tributos, a entidade pede o adiamento do início da safra de algumas espécies como pargo e lagosta.
“É um setor que está completamente à deriva, mas com a esperança de ser levado a mares mais calmos pela ministra da agricultura, que é uma pessoa que tem uma sensibilidade e assertividade muito grande. Ela é o nosso comandante nessa crise”, finalizou Eduardo Lobo.