Algodão perde área plantada, qualidade e preço

A safra 2014/2015 foi marcada por redução das lavouras, baixa qualidade e queda nos valores

A redução da área plantada de algodão no país marcou a safra colhida em 2015. Foram 976 mil hectares contra 1,12 milhão da safra anterior. Entre os motivos da queda está a retração de mercado, que fez com que o produtor arriscasse menos.

Além disso, o cenário ficou favorável para outras culturas, especialmente a soja, que incentivou os agricultores a optar pelo grão ao invés da pluma.

E tudo indica que a próxima safra, que já começa a ser plantada, também deve sofrer redução de pelo menos 5%.

“Embora a influência para redução de área tenha sido mais por problemas climáticos, em alguns casos ocorreu por falta de recursos pra financiar a safra. Mas é uma redução relativamente pequena”, diz João Carlos Jacobsen, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão.

A qualidade do algodão colhido no país também foi prejudicada. A resistência e o comprimento da fibra não atingiram o padrão esperado.

A baixa qualidade na safra 2014/2015 trouxe dor de cabeça a produtores de todo o país. O uso de novas variedades e o clima instável são fatores que justificam o resultado.

“Hoje, com variedades transgênicas, o clima é muito mais importante na qualidade final do algodão. Nos últimos dois anos, com um clima oscilando muito, a qualidade não foi uniforme. Com o tempo, o produtor vai se ajustando e encontrando as variedades corretas”, afirma Marco Antônio Aloísio, presidente da Associação Nacional dos Exportadores de Algodão.

Coordenador da fazenda Pamplona, pertencente ao maior grupo produtor de algodão do Brasil, o engenheiro agrônomo André Vinícius Schwaab explica que os problemas com qualidade podem deixar alguns produtores no vermelho: “A quebra de qualidade reflete significativamente no resultado operacional de cada fazenda. A gente deixa de ter um produto com qualidade de exportação e passa a depender apenas da venda interna. Fica difícil fechar as contas”.

Os problemas econômicos preocuparam na última safra e ainda deixam os produtores alertas para a colheita de 2016. A queda no preço das commodities, a oscilação do câmbio e os altos custos de produção foram os principais vilões.

Embora a influência para redução de área tenha sido mais por problemas climáticos, em alguns casos ocorreu por falta de recursos pra financiar a safra
 

“Num primeiro momento, a taxa de câmbio favorece a receita, mas ao longo do tempo é repassada para os insumos. Nós temos um aumento de custo e uma redução do crédito. Com isso, os produtores estão mais cautelosos quanto a novos investimentos”, diz Lucílio Alves, pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada Esalq/USP.

Para Jacobsen, está sendo muito difícil para o produtor passar por essa fase, na qual teve suas dívidas em dólar majoradas: “Para piorar, os bancos saíram um pouco do negócio, especialmente quando o Brasil perdeu o grau de investimento. Isso teve um impacto muito negativo para os produtores”.

“Bancos menores saíram da atividade e isso levou a um desencontro de necessidades e recursos. Temos agricultores que provavelmente não plantarão a área de algodão desejada. Vão optar por plantar mais milho ou mais soja”, conclui Celestino Zanella, presidente da Associação Baiana dos Produtores de Algodão.