Alimentos descartados na Ceagesp voltam para o consumidor

Catadores coletam frutas e legumes das caçambas de lixo e vendem em feiras e para restaurantesTodos os dias milhares de pessoas vão até a Ceagesp para buscar o alimento do lixo. Alguns matando a fome, outros colocando de volta no mercado frutas, verduras e legumes que já tinham sido descartados.

Os avisos estão por toda parte. Basta pisar no entreposto da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp) na capital para perceber a advertência de que é proibido coletar alimentos descartados nas caçambas. Mas o que vimos durante um mês foi desrespeito à proibição e vistas grossas por parte dos fiscais e seguranças.

De acordo com o site da Ceagesp, o destino correto destes alimentos descartados, impróprios para o consumo, é transformação em adubo orgânico, por meio da compostagem. Mas a empresa que prestava este serviço está com o contrato suspenso há três meses. A assessoria da Ceagesp não informou o motivo da suspensão.

Todos os dias milhares de pessoas vão até a Ceagesp para buscar o alimento do lixo. Alguns matando a fome, outros colocando de volta no mercado frutas, verduras e legumes que já tinham sido descartados.

Várias pessoas que ouvimos durante as visitas ao entreposto de São Paulo dizem levar os alimentos para casa, para consumo próprio. Mas, entre os catadores, descobrimos muitos comerciantes, que vendem os alimentos em feiras, nas estações de trem e metrô e mesmo para restaurantes.

Um dos vendedores que acompanhamos afirma que a fiscalização não só faz vistas grossas, como facilita a coleta. Os catadores das caçambas dão frutas coletadas aos seguranças, que, assim, não lhes impedem de coletar.

O gerente do entreposto da Capital, Edson Ignácio Marin da Silva, mesmo se dizendo surpreso com a denúncia, afirma que é difícil impedir este reaproveitamento dos alimentos descartados nas caçambas de lixo.

– Esta é uma questão muito complicada porque, além das pessoas estarem numa situação social difícil, ali, catando. Tanto a segurança quanto a fiscalização têm orientação para que isto não aconteça. É difícil controlar? É difícil. A gente não permite. Se eu vejo que a caçamba está transbordando a gente manda recolher para o aterro para não ter este tipo de coisa – diz o gerente.

Nossa equipe procurou a Coordenação de Vigilância em Saúde, da Prefeitura de São Paulo, responsável pela fiscalização sanitária da Ceagesp, mas eles não quiseram gravar entrevista. Em nota, a vigilância informa que o controle da entrada de pessoas aos locais de acesso aos resíduos e a destinação das frutas, legumes e verduras descartados é de responsabilidade da companhia. O Ministério da Agricultura, por sua vez, pediu que procurássemos o presidente do Conselho de Administração do Entreposto, Francisco Jardim, que também não quis de pronunciar. 
 

* Colaborou André Dórea