A safra de soja 2016/2017, colhida entre janeiro e março, foi recorde, e as exportações seguiram a mesma tendência, atingindo patamares nunca vistos no país. Tudo isso estimulou o aumento da área plantada no Brasil e nos Estados Unidos. O mercado, acreditando em uma segunda supersafra, derrubou os preços. A falta de chuvas no início da semeadura brasileira da safra 2017/2018 atrasou os trabalhos, mas não afetou a qualidade do plantio. Veja a retrospectiva de como foi o ano da principal commodity agrícola do Brasil.
O ano começou com a colheita de uma produção recorde de soja no Brasil, no ciclo 2016/2017: 114 milhões de toneladas de soja, 19,5% a mais que a safra anterior. A marca foi festejada em janeiro, durante a Abertura Nacional da Colheita da Soja, realizada pelo projeto Soja Brasil, do Canal Rural, no município de Ponta Porã (MS).
O resultado da safra 2016/2017 também elevou a produtividade média brasileira a um novo patamar, de 56 sacas por hectare, ou 13% a mais que no ciclo anterior. “Este ano foi muito bom. A chuva incidiu bem. Teve um enchimento bom das vagens da soja. Foi show de bola, não temos do que reclamar. Este ano foi um ano excepcional para a produção de soja”, comenta o produtor rural Nelson Miranda.
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Preços baixos
Claro que a produção histórica do Brasil, aliada ao recorde colhido nos Estados Unidos (120 milhões de toneladas) derrubaram os preços da oleaginosa. E esta foi a marca do ano: preços baixos e pouca comercialização. “A preocupação é grande. Ficamos esperando o preço, que é formado por Chicago, e o dólar melhorarem. Acompanhamos diariamente a movimentação, aquele sobe e desce, e nós esperando mais. Mas não é a gente que coloca o preço na commodity, é o mercado internacional”, conta o produtor José Cusinato.
“Trabalhamos com preços de 20% a 25% menores do que na safra anterior. Estamos com uma grande safra, mas com rentabilidade baixa ou negativa em algumas regiões”, relembra o ex-presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), Endrigo Dalcin.
Os preços bastante abaixo das cotações do ano anterior deixou a comercialização lenta no país. Muitos sojicultores preferiram deixar a soja armazenada do que tentar vender parcialmente a valores menos atraentes e isso não foi um bom negócio.
“No começo da safra, travamos a soja a uma média de R$ 73 a saca. Depois, o preço caiu muito e essa soja ficou estocada. Aos poucos a gente está negociando o restante, a R$ 65. A média baixou bastante para nós e ainda tivemos que pagar o custo com o armazém”, diz o produtor Gustavo Borsato.
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Exportação recorde
Além da produção recorde, a demanda por soja seguiu aquecida no mundo e a exportação brasileira também foi a melhor da história em 2017. De janeiro a novembro, foram embarcadas mais de 65,7 milhões de toneladas do grão, 29% acima do mesmo período do ano passado. A receita com as vendas aumentou 30%, chegando a quase US$ 25 bilhões.
A China continua sendo o principal comprador da soja brasileira. “A China foi comprando, comprando, e agora, no final de outubro, os números oficiais indicam que comprou 52 milhões de toneladas do Brasil. Um volume enorme”, diz o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), Fábio Trigueirinho.
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Safra 2017/2018
A safra atual iniciou com atraso no plantio por causa da estiagem. A região Centro-Oeste foi uma das mais afetadas pela condição climática, que, mas tarde, também complicou bastante a vida dos produtores mineiros e paulistas.
“A chuva demorou a cair e, infelizmente, acarretou outros problemas devido ao atraso da semeadura. Tivemos que fazer uma mudança de estratégia: ao invés de plantar uma variedade de ciclo mais longo, em setembro, cultivamos uma precoce depois. Mas não sabemos o milho se vai dar. Muda totalmente o manejo na lavoura”, conta o produtor Eberson Luiz de Oliveira.
Os problemas climáticos não pararam ali e posteriormente várias regiões tiveram problemas com o excesso de chuvas – como Paraná e Minas Gerais – e também com a falta dela – caso do Rio Grande do Sul.
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Com isso, a colheita da safra 2017/2018 deve ser menor segundo estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). A projeção é de que sejam produzidas 109 milhões de toneladas do grão no Brasil. Um dos fatores esperadas para 2018 é a maior volatilidade do câmbio. O sobe e desce do dólar por causa das incertezas eleitorais pode mexer com a cotação da soja. Mas, por enquanto, o horizonte de preços não mostra elevações consideráveis.
“Acho que tem espaço para o preço crescer um pouco no ano que vem, porque a produção mundial é um pouco menor. O estoque mundial previsto também caiu um pouquinho. Se tivesse que dar uma tendência agora, é que 2018 será positivo. Um estouro no câmbio em um primeiro momento até pode ser benéfico para o exportador, mas no médio prazo a gente sabe que prejudica bastante”, diz a economista Amaryllis Romano.