Ainda pouco difundido no Brasil, o sistema de aquaponia é usado em países com pouca disponibilidade de água doce, que sofrem com invernos rigorosos ou por praticantes de agricultura urbana. Trata-se de um sistema integrado para a produção de alimentos e de baixíssimo impacto ambiental. Exemplo da prática é a produção de peixes e hortaliças em um pequeno espaço.
O produtor Jair Simão Ferreira é adepto da aquaponia, que pratica em sua propriedade em Santa Isabel, cidade paulista que fica a 60 km da capital. Com muitos erros e acertos, ele implantou o sistema no quintal de casa. Para tanto, transformou três caixas d’água em tanques.
“Eu comecei a captar água da chuva há dois anos e meio. Eu crio peixe em água coletada até hoje. Pode começar com uma caixa d’água e ir aumentando aos poucos”, diz o produtor, que também é tesoureiro da Associação de Pescadores Amadores de Santa Isabel.
No sistema usado por Ferreira, a água passa de um tanque a outro por meio de sifões. E leva junto os dejetos dos peixes. No último tanque, a água passa por um processo de decantação. Depois, vai para um filtro artesanal coberto de papiros. Esse é o coração de todo o sistema.
“É a etapa mais importante, a do decantador. Os pontinhos que aparecem são bactérias, que têm a função de distribuir amônia e transformá-la em nitrito e nitrato. E as raízes do papiro vão ajudar a filtrar a água”, diz Ferreira.
Já com nitrato, a água irriga as plantas. E depois volta para os tanques de peixes. O sistema não para nunca.
A produção é ambientalmente correta. Por causa do sistema todo fechado, não há eliminação de dejetos ou efluentes no meio ambiente. Além disso, a economia de água é de 90%, se comparada à produção convencional de hortaliças.
O sistema dispensa o uso de agrotóxicos e outros métodos químicos para controlar pragas e doenças. Até porque eles poderiam matar os peixes.
“O produtor consegue reduzir dois impactos ao mesmo tempo: que seriam o uso desordenado de produtos químicos e essa água que volta para natureza 100% limpa, sem dejetos e sem poluição”, afirma o técnico de extensão rural Vagner Natanael de Souza.
Em cada metro cúbico de água Jair produz, a cada seis meses, 25 quilos de tilápia. A horta rende mais. As alfaces orgânicas são colhidas a cada 30 dias, prazo muito menor que no modo convencional. O próximo passo do produtor é implantar um sistema de energia solar para não depender totalmente da energia elétrica, que custa em torno de R$ 40 por mês. Evita também blackouts, como o que aconteceu no fim de 2016: “Nós perdemos 70 quilos de peixe em duas horas por falta de oxigenação”.
O manejo é alimentar os peixes três vezes por dia, ficar de olho na temperatura – já que a tilápia come menos no frio – e fazer a análise e correção da água uma vez por semana. Se o PH começa a subir, o produtor corrige com vinagre. Se a amônia está muito alta, joga gesso. Se o nitrato está alto, coloca cal.
Outras espécies podem ser criadas com a aquaponia, entre elas rã e camarão. “Nós vamos pegar esse sistema do Jair, melhorar e levar a outros proprietários”, diz o secretário de Meio Ambiente de Santa Isabel, Rubens Barbosa.
O próximo passo de Ferreira é produzir alevinos para um sistema maior de criação de tilápias em tanques na represa da cidade: “Nosso sonho é através repovoar o reservatório de Jaguari”.