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Área plantada de trigo no Rio Grande do Sul está 10% menor do que em 2016

Os preços considerados insatisfatórios e as chuvas excessivas contribuem para a situação que está desestimulando os agricultores gaúchos

Fonte: Fernando Dias/ Seapa

O preço ruim e as seguidas perdas com o trigo fizeram produtores do Rio Grande do Sul plantarem apenas 710 mil hectares, 10% a menos em relação ao ano passado. O problema é que a colheita também ficou 40% menor e não está mostrando bons resultados nos valores e na qualidade.

Em Cachoeira do Sul (RS), o agricultor João Soldá repensa a área destinada ao plantio da cultura todos os anos. “No ano passado, nós plantamos 100 hectares. Este ano, a gente colheu 75 hectares, e talvez 50 hectares no próximo”, conta.

A lavoura de Soldá não deu o resultado que o produtor querida, já que a umidade comprometeu a qualidade final. Consequentemente, o preço recebido tem deixado a desejar. “O grão não ficou bom para trigo, para farinha. Algumas cargas que mandamos deram 72 de pH. Na média, deu um pH de 74”, diz.

Mauricio Mayer, que é pequeno agricultor, acabou diminuindo drasticamente a plantação, passando de 30 hectares em 2016 para apenas dois hectares neste ano. O grande problema? Segundo ele, o custo de produção não compensa. “O adubo chegou a R$ 65 por saca. O óleo diesel, também. Hoje o litro está bastante caro”, afirma.

Mesmo com área reduzida, Mayer precisa continuar com a atividade já que usa o trigo para alimentação do rebanho bovino. O problema é que, em anos de perda, o prejuízo é muito grande. “Em 2015, eu esperava colher 750 sacas na área de 30 hectares, e acabei colhendo só 5% da quantidade plantada”, relata.

Além da queda de R$ 10 registrada nos preços da saca nos últimos quatro anos, a chuva que traz doenças à lavoura também impacta diretamente na produção. “Nos últimos quatro anos, tivemos uma redução de 10 mil hectares para três mil hectares, são 70% a menos de área, muito vinculado a questão do preço. Aqui em Cachoeira do Sul, a média de precipitação mensal é de 120 milímetros, que dá em torno de 1.440 por ano. Este ano, nós estamos em outubro e já estamos com mais de dois mil milímetros. Só neste mês já temos 207 milímetros acumulados. Então, a quantidade de chuva foi excessiva, também prejudicando o desenvolvimento do trigo”, esclarece o engenheiro agrônomo e chefe do escritório municipal da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Rio Grande do Sul (Emater/RS), Luciano da Silva.

O analista de mercado Élcio Bento explica que o Brasil importou 7,09 milhões de toneladas de trigo com gasto em US$ 1,35 bilhões, e que isso acarretou em queda nas cotações. “O preço que a gente chama de paridade de importação é o que determina o valor internamente. Temos uma situação cambial, com o real voltando a se valorizar em relação aos anos anteriores, também. Isso tudo barateia o custo de importação, e o produtor brasileiro também precisa reduzir os seus preços para seguir competitivo”, diz Bento.

Produtores como João Soldá se sentem desestimulados. “Porque teu produto não é valorizado! Vem produto de fora com imposto baixo, a sua produção já não é alta, o preço não é satisfatório e você vai acumulando prejuízos. Automaticamente, a cada ano que passa, vai diminuindo área de plantio“, lamenta Soldá.

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