O atraso na compra de fertilizantes registrado no primeiro semestre deste ano no país pode ter impactos na produtividade da safra 2015/2016. Especialistas temem que com o alto preço dos produtos, alguns agricultores optem por reduzir a área plantada, ou até mesmo a quantidade de insumos durante o plantio. O engenheiro agrônomo Daniel Lopes trabalha com inteligência de mercado de fertilizantes e constatou que os atrasos de compra do insumo este ano têm sido registrados mais nos estados do Sul e em São Paulo, onde a crise no setor sucroalcooleiro impacta diretamente na diminuição da demanda.
– O agricultor, ele tem que colocar em mente qual é a produtividade esperada que ele gostaria de ter naquela safra e com isso tomar a decisão correta de quanto ele deve investir em fertilizantes e outros insumos. Essa é uma decisão difícil esse ano de ser tomada, mas a gente sabe que se ele compra uma semente de qualidade ele precisa nutrir adequadamente essa semente – disse.
De janeiro a julho, as vendas de fertilizantes no país foram 7,7% menores na comparação com o mesmo período de 2014, de acordo com a Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda). O atraso é atribuído à demora na liberação do crédito rural e também ao fato de 80% dos adubos usados no país virem do exterior.
– A situação que nós estamos vivendo no momento seguramente é uma situação de atraso na compra, nas decisões de compra, em função da situação econômica, das variações de taxa cambial. Ele [produtor] sempre fica na expectativa de ganhar alguma vantagem, mas vai chegar um momento que é crucial, ou compra ou não compra. Ele tem a data de plantio, ainda mais soja que as janelas de plantio são muito estreitas, então ele não tem muito o que adiar a partir de determinada data – diz o secretário da Sociedade Brasileira de Ciência do Solo (SBCS), Reinaldo Cantarutii.
Os custos com a compra de fertilizantes representam, em média, 30% dos gastos de produção do agricultor brasileiro. Para a SBCS, a diminuição do uso de fertilizantes nas plantações pode ser uma saída, mas que precisa ser planejada.
– Entre fertilizar menos em toda propriedade e fertilizar adequadamente glebas que sejam economicamente viáveis, eu acho que reduzir área plantada com adequada adubação, do ponto de vista econômico, do ponto de vista de sustentabilidade, eu acharia mais negócio – afirma Cantarutii
O produtor que ainda não negociou a compra de fertilizantes para o início do plantio pode pagar ainda mais caro pelos produtos. Especialistas preveem que o dólar deve continuar subindo nas próximas semanas e os preços devem ficar maiores por causa da demanda acumulada de entrega em diversas regiões do país.
– Há um risco de que quando o produtor realmente resolva comprar nós tenhamos alguns problemas de logística. Nós temos aí algumas filas grandes de navios nos portos que impactam num custo do navio parado no porto grande, isso impacta no preço do fertilizante e depois você tem todo problema logístico de misturar, fazer a mistura desse fertilizante, distribuir e fazer com que ele chegue lá na ponta consumidora efetivamente – diz o consultor da FCStone, Marcelo Mello.