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Bahia vai deixar de irrigar 60 mil hectares para poupar água

Proposta é dos próprios agricultores do oeste do estado, que estão preocupados com baixa oferta de água e de energia elétrica na região

Fonte: Fernanda Farias/Canal Rural

Cerca de 60% dos 120 mil hectares da área agrícola irrigada do oeste da Bahia devem ter as regas suspensas por 90 dias a partir de julho. A proposta é dos próprios agricultores da região, que estão preocupados com o baixo nível de água dos rios locais, afetados por uma forte estiagem.

Os produtores locais teriam compreendido a gravidade da situação e por isso não estariam se opondo à redução das regas, afirma o diretor de irrigação e água da Associação dos Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba), José Cisino Lopes. Segundo ele, os 40% da área restante não podem ter a irrigação suspensa, por se tratarem de culturas perenes, como café, ou mais sensíveis à falta d’água, como a produção de sementes.

Célio Zuttion é um dos produtores que se prontificaram a suspender a irrigação de parte da área até que a chuva volte a molhar a lavoura. Ele acha provável que a decisão traga prejuízo, pois em agosto ele faria uma safra de feijão. 

“Essa safra nós vamos ter que pular por causa da (falta de) água. Muitos irrigantes ainda tem água, mas é por causa dos outros a gente fica sem plantar para dar essa correção”, explica.

O produtor calcula que a redução da irrigação signifique um prejuízo geral de R$ 1 bilhão. “Muitos pivôs vão parar, mas não por legislação; vamos fazer isso pensando no amanhã”, diz Zuttion.

De acordo com o diretor da Aiba, com a paralisação das regas, três milhões de sacas de feijão deixarão de ir ao mercado nos próximos 90 dias. “A escassez hídrica está pegando todo mundo; o produtor é o primeiro que sofre, mas a sociedade lamentavelmente vai sofrer também”, afirma José Cisino Lopes.

Quebra de safra

O engenheiro agrícola Sérgio Zaggo, que vende projetos de irrigação por pivô central, acredita que a quebra de safra na Bahia, por causa da irregularidade de chuvas, aqueça as vendas de equipamentos em pelo menos 15% até o final do ano. 

“O agricultor passa a entender a necessidade de dedicar um percentual da sua área à irrigação para que tenha uma segurança de produção mesmo nos piores momentos sem chuva”, afirma.

A falta de chuva no Cerrado da Bahia deve levar a uma quebra de até 35% na safra de algodão, de acordo com o presidente da Associação Baiana dos Produtores de Algodão Abapa), Celestino Zanella. Ele defende a utilização dos sistemas de irrigação como um seguro importante na lavoura.

Mas, em tempos de escassez de água e de dinheiro, a orientação é que o produtor decida com cautela. Zanella afirma que a associação orienta os agricultores a fazer a rotação de cultura, de modo que a área irrigada e a sem irrigação não tenham o mesmo tipo de plantio no mesmo tempo.

Os produtores do oeste baiano aguardam ainda a finalização de alguns estudos no aquífero Urucuia, uma fonte de água que pode impulsionar a produtividade em uma das áreas mais promissoras da agricultura nacional. Para Lopes, da Aiba, a água superficial da região já está praticamente esgotada, por isso é preciso apostar no manancial subterrâneo para a irrigação avançar. 

No entanto, ele afirma que é preciso criar regras melhores e estudos mais completos para explorar convenientemente as águas subterrâneas. “Se o aquífero for liberado, a tendência é aumentar o número de pivôs por aqui”.

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