Os produtos de trigo do interior de São Paulo estão desanimados. Depois de uma temporada de clima irregular, o cenário de preços baixos e as dificuldades de negociação com a indústria serão responsáveis pela diminuição da área de plantio.
Na propriedade de Ariovaldo de Albuquerque, no interior de São Paulo, o que sobrou da soja, em poucos dias, dará lugar as sementes de trigo. Só depende da chuva, que tem jogado contra desde a colheita da última safra.
“Tomou [o trigo da última safra] uma chuva na colheita a gente perdeu na qualidade. Passou do tipo 1 para o tipo 2, e a diferença de preço é muito grande. Então, foi um prejuízo na lavoura”, relata Albuquerque.
O produtor deve semear 43 hectares de trigo, mas a área só vai ser preenchida com o grão porque ele acabou deixando passar a janela recomendada para o plantio do milho. “Se eu tivesse condição, eu não ia plantar trigo esse ano. Mas como a gente vai perdendo as janelas, vai ficando tarde, fica muito ruim de plantar o milho, então você opta pelo trigo”, diz.
O motivo é o milho estar muito mais atrativo comercialmente. Para o trigo, a alta exigência da indústria e a baixa remuneração devem encolher mais a área plantada nas principais regiões produtoras do país. No sudoeste de São Paulo, que responde por 80% da produção do estado, a expectativa é que essa redução seja de pelo menos 25% em relação ao que foi plantado no ano passado. “O ano passado foi um ano onde a qualidade do trigo foi muito baixa, e isso deixou o agricultor frustrado. Quando o trigo não tem uma qualidade boa, o próprio moinho já rotula ele como triguilho, ou seja, uma mercadoria de segunda categoria, que as vezes acaba até virando ração animal”, explica o engenheiro agrônomo Edegar Petisco.
O Brasil importa mais de cinco milhões de toneladas de trigo por ano e o Sindicato da Indústria do Trigo de São Paulo estima um volume ainda maior em 2016, principalmente dos Estados Unidos, já que o trigo que vem da Argentina, cerca de três milhões de toneladas, deve acabar em julho. Apesar desta forte demanda no mercado interno, parte da nossa produção também acaba sendo exportada.
“Se você acompanhar os números da Conab, o trigo do Rio Grande do Sul, 50% fica no Brasil e o restante vai para países africanos, países que não têm uma exigência muito grande quanto à qualidade do trigo. Ou acaba indo para países desenvolvidos como os Estados Unidos, e vira ração”, conta Petisco.
Para o engenheiro, falta alguma garantia de comercialização. “Essa garantia deveria estar prevista em algum tipo de seguro que indenizasse o agricultor toda vez que, por problemas climáticos a qualidade do trigo brasileiro ficasse aquém do desejado”, indica.