As taxas de juros ofertadas para financiamentos na Tecnoshow Comigo, feira agropecuária que acontece em Rio Verde (GO), estão bem acima da Selic, a taxa básica da economia, que atualmente está em 6,5% ao ano. Isso tem sido motivo de reclamação de produtores que visitam o evento. Para tentar atrair o público, entretanto, bancos públicos e privados oferecem algumas vantagens.
Líder no segmento rural, o Banco do Brasil (BB) espera fechar mais de R$ 1 bilhão em negócios na feira, com recursos do Plano Safra. O banco disponibiliza ainda linhas de crédito especiais para máquinas e picapes. “Também temos recursos disponíveis por meio do FCO [Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste], com ótimas condições e prazos para atender a todas as demandas dos nossos produtores”, diz o superintendente do BB em Goiás, Marco Antônio Sanches.
Maior instituição privada em ativos de crédito para o agronegócio, o Bradesco diz não contar com limites para financiamentos e custeio da produção. Entre julho de 2017 a janeiro deste ano, mais de R$ 7 bilhões já tinham sido contratados.
“São os recursos obrigatórios, provenientes dos depósitos à vista, recursos livres, tanto do caixa do banco, quanto de LCA [Letra de Crédito do Agronegócio], e as operações de repasse do BNDES”, diz o superintendente-executivo do Bradesco, Rui Rosa.
O Santander, por sua vez, não revela o montante de crédito para o agronegócio. Mas oferece como vantagem para os contratantes desta safra a isenção da comissão que incide sobre o valor total da compra. “Ou seja, nós não cobramos pelo projeto. E, para as linhas de produtor, há taxas diferentes dependendo do tamanho dele”, afirma o diretor nacional de Agronegócios do banco, Carlos Aguiar.
Apesar das alternativas, há produtores que se queixam dos juros propostos. Adriano Barzotto, por exemplo, recorreu ao crédito bancário para a próxima safra, mas afirma ter contido os investimentos em razão dos juros altos. “Nunca a gente viu isso acontecer, taxas de juros para setor produtivo maior que a Selic. Isso precisa ser olhado pelo governo, para que o produtor possa ter segurança na hora de contratar e pagar em dia seus financiamentos”, diz.
Os representantes dos bancos alegam que os juros praticados atualmente usam como referência as taxas do último Plano Safra, ainda em vigor. Aguiar, do Santander, afirma que está nas mãos do governo o papel de fazer a equalização dessas taxas.
Já Rosa, do Bradesco, lembra que os juros de longo prazo do mercado não acompanham, necessariamente, as variações da Selic. Mesmo com uma queda de taxa Selic, as taxas de juros do longo prazo não acompanham, necessariamente a Selic. “Se você contratar a 7,5% (ao ano) no BNDES, você garante uma taxa fixa por um prazo de seis, oito anos, o prazo que você tomar”, diz.
Alternativas
O presidente da Organização das Cooperativas do Brasil (OCB), Márcio Lopes, diz que os produtores devem buscar alternativas para financiamento e custeio. As cooperativas de crédito seriam uma dessas opções. Segundo Lopes, as taxas do Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil (Sicoob) e do Sicredi são de no máximo de 6,5% ao ano.
“O que nós precisamos é forçar os bancos para que essas taxas reduzam e a gente negocie melhor com o governo um próximo Plano Safra, porque o que está estabelecido é até 8,75%. Para baixo, não tem limite”, afirma o presidente da OCB.
Enquanto o novo Plano Safra não sai, os bancos dizem que o produtor pode compensar os gastos em feiras como a Tecnoshow. Em eventos como esse, fabricantes de máquinas e insumos costumam dar descontos e fazer promoções especiais.
De acordo com Marco Antônio Sanches, do BB, expositores da feira de Rio Verde têm oferecido abatimento de 10% a 15% no preço de máquinas e implementos, condição que seria muito favorável aos produtores. “Provavelmente, são descontos até maiores do que deve ser a redução da taxa de juros. Por essa razão, é um ótimo momento para fazer suas compras”, afirma.