O aumento das tarifas de energia elétrica já impacta muito no campo. O custo de produção de quem trabalha com irrigação está inviabilizando a atividade, por isso a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) encaminhou para o governo um relatório sobre o impacto da energia na produção de alimentos.
O professor da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Brasília vem acompanhando os efeitos do aumento das tarifas de luz no campo. Luiz Vicente Gentil destaca que os setores mais afetados são as agroindústrias e a irrigação.
– Na Bahia, em Jaíba, onde a Associação dos Irrigantes de Jaíba tem uma grande área irrigada e, automaticamente, paga elevados valores da eletricidade, chegaram num ponto de praticamente insolvência. Todos os irrigantes, nesse caso particular de Jaíba, já fizeram várias reuniões, têm parlamentares associados para defender os interesses dos agricultores daquele estado, daquele segmento produtivo de irrigação, para encontrar uma solução. Se continuar os preços da eletricidade nesta área irrigada de Jaíba, como em todas as outras do país, esses agricultores deixarão as atividades – relata Gentil.
É a situação vivida por Genésio Müller. O produtor tem 100 hectares com irrigação, para a produção de trigo e feijão. As contas estão fechando no vermelho.
– A gente pagava de R$ 6 mil a R$ 7 mil por mês e deve vir em torno de R$ 10 mil, que é um absurdo pra lavoura. A gente, em três meses irrigando, vai gastar R$ 30 mil, R$ 35 mil de energia. Eu vou precisar, só para pagar aqui, se vender a R$ 35 o saco de trigo, eu vou precisar de mil sacos de trigo em 70 hectares só para pagar energia – calcula o produtor rural.
Müller reclama do absurdo de preço praticado no horário que seria o pico para a irrigação. O sistema de bandeiras tarifárias, estipulado pelo governo federal, faz com que a tarifa varie de acordo com o período do dia. À noite, às 21h é um valor, às 23h é outro valor até 3h da manhã.
– O pico é 10 vezes mais caro, então a gente só trabalha de noite, das 9h noite até às 6h da manhã. É o horário que faz o preço médio, que dá para sobreviver – conta.
O último levantamento divulgado pelo Ministério da Integração Nacional mostra que a área irrigada no Brasil é de seis milhões de hectares e tem potencial para chegar a 40 milhões de hectares com novos projetos. Para a CNA, no entanto, o Programa Mais Irrigação do governo federal, que pretende dobrar a área em dez anos, pode estar comprometido por causa do aumento no custo com energia elétrica.
O coordenador de Sustentabilidade da CNA explica que ao adotar o sistema de bandeiras tarifárias para compensar os custos com termelétricas, o governo está antecipando receita e passando a conta para o consumidor. O produtor só teria que pagar este aumento de custo no ano que vem.
– As bandeiras tarifárias vieram e não entraram nesse direito garantido pelo produtor rural quanto aos descontos em cima desta bandeira. Isso tem onerado muito o produtor rural. Nós já mandamos um ofício ao Ministério da Agricultura, ao Ministério da Pesca e Aquicultura e ao Ministério da Integração Nacional e de Minas e Energia, com o diagnóstico mostrando qual a importância dessa agricultura irrigada e quais os impactos que esse aumento de energia elétrica pode causar, desacelerando o aumento da área irrigada – relata Nelson Ananias.
O Mapa já se manifestou favorável à retirada das bandeiras tarifárias para irrigação.