Bicudo causa US$ 200 mi de prejuízos no algodão

Infestação pela praga atinge todas as áreas produtoras do país; parceria público-privada quer potencializar controleA infestação do bicudo do algodoeiro no algodão está em todas as regiões produtoras do país e o prejuízo anual para os produtores pode chegar a US$ 200 milhões. O Plano Nacional de Defesa Agropecuária, lançado esta semana, trouxe ações de combate à praga. Nesta sexta, dia 8, um encontro deu início ao projeto que vai ser feito numa parceria público-privada.

Fonte: Canal Rural

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O bicudo do algodoeiro é uma praga que foi introduzida no Brasil na década de 1980. Nos últimos 15 anos, os produtores vêm tentando combater com ações e programas regionais. O prejuízo hoje está entre US$ 70 e US$ 200 por hectare ao ano. Este valor depende muito do trabalho de cada produtor. Quem segue as recomendações consegue manter o bicudo sob controle.

– Temos um pacote de medidas, estamos buscando inclusive alguns recursos biotecnológicos e biológicos para manter o bicudo sob controle. Se nós temos um país nas dimensões dos Estados Unidos, embora com clima diferente do nosso, que conseguiu fazer a erradicação, nós temos que ter um programa que, pelo menos, chegue perto disso e consiga fazer uma supressão significativa da praga – diz o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), João Carlos Jacobsen Rodrigues.

Até agora, o combate sem articulação nacional deu resultados diferentes em cada região. No encontro de hoje, representantes de nove associações estaduais dividiram as experiências para revelar o que deu certo e o que deu errado na tentativa de controlar a praga. Os técnicos apontam para a falta de consciência de parte dos produtores e comparam a disseminação do bicudo com a dengue enfrentada nas cidades.

– Um paralelo bom que nós temos é o caso da dengue. Se não combater o mosquito, não combate a dengue, a paralisia infantil é outro paralelo interessante, se não vacinar o jovem, a criança, não acaba com a paralisia infantil. O bicudo é a mesma situação – diz Paulo Eduardo Degrande.

O presidente da Abrapa atenta que está claro e explícito que não é difícil de conviver com o bicudo, o difícil é conviver com os maus produtores.

O combate ao bicudo, que está em destaque no Plano Nacional de Defesa Agropecuária, é na realidade a reativação de um projeto criado em 2008, através de uma instrução normativa pelo governo federal, mas que não teve adesão pela iniciativa privada. Agora, a estratégia é unificar as ações entre as principais regiões produtoras do país.

• Ações de controle incorretas aumentam ataques de bicudo em Mato Grosso 

– A nova visão da defesa agropecuária hoje, é uma parceria público-privada para estabelecer este processo em dois motes, tentando absorver todas as informações do produtor rural, com a sua responsabilidade de controle de pragas de importância nacional e, principalmente, identificando qual a ferramenta que o governo pode aplicar nesse cenário. Entendemos que o governo pode aplicar a fiscalização, a inspeção dos campos tanto em nível federal como estadual, utilizando o Suasa. Mas, hoje, o maior desafio do governo é modernizar a legislação para poder, de fato, fazer o que os produtores esperam que ele possa fazer – afirma o diretor do Departamento de Sanidade Vegetal do Ministério da Agricultura, Luis Eduardo Rangel.
 
As entidades ligadas ao algodão esperam que esta parceria com o governo traga uma fiscalização mais eficiente no campo, para evitar riscos pontuais que só contribuem para aumentar a infestação da praga.

– Existe coordenação, existem projetos em vários lugares, em todos os estados, mas alguma coisa não está sendo eficiente, ou o projeto não está sendo comunicado da maneira adequada ou o produtor não está percebendo a importância das ações que são recomendadas. Depois, fica se procurando razões para a explosão da praga e a razão nada mais é do que a não adoção das medidas preconizadas – reforça Haroldo Cunha, presidente do Instituto Brasileiro do Algodão (Iba).

Mato Grosso

Em Mato Grosso, a presença do bicudo do algodoeiro está intensa. O clima chuvoso e o manejo incorreto contribuem para a propagação do inseto. Os produtores cobram produtos mais eficazes para eliminar a praga e já estão gastando mais com aplicações.

Carlos Schneider acompanha de perto o desenvolvimento do algodão nos 810 hectares que cultiva na propriedade localizada em Jaciara (MT). O produtor já sabe que a cultura é delicada, mas nesta safra está mais preocupado. O clima está desfavorável. O excesso de chuva que caiu em abril acabou comprometendo bastante o desenvolvimento da lavoura.

– Aqui está muito fácil de coletar a maçã podre do baixeiro, danificada pela alta umidade do mês de abril – diz Schneider.

O produtor calcula que duzentos hectares já estão comprometidos. A chuva dificulta a entrada dos produtos para combater o ataque do bicudo e, com isso, a proliferação da praga está bem maior nesta temporada. Para controlar a manifestação, o produtor aumentou o número de aplicações, o que acaba elevando os custos.

– Oito anos atrás, para dar uma ideia a vocês, eu plantei pela primeira vez algodão nessa área onde não é comum plantar algodão. Eu fiz uma única aplicação para o bicudo durante todo o ciclo da lavoura e esse ano nós já estamos com nove aplicações para o bicudo, e vamos ter, provavelmente, mais outras nove ou 12 aplicações. Então, a cada ano, o bicudo aumenta, aumenta muito, o custo sobe, e o preço do algodão a gente não dita, o produtor não diz quanto ele quer pelo produto dele, ele só diz o preço que o algodão dele valer. Os prejuízos a gente está acumulando, já os preços não consegue intermediar – lamenta Schneider.

Os municípios mais afetados são Campo Verde, Primavera do Leste, Rondonópolis e Jaciara, onde há maior concentração das lavouras de algodão no estado.

– Ele ataca o botão floral e a maçã, no botão floral ele fura para fazer a procriação botando os ovos e futuramente botando larvas e bicudo novamente, e nas maçãs, onde ele fura, a maçã apodrece e não acaba produzindo nada aquela maçã. É uma situação muito grave que pode comprometer toda a lavoura se não cuidar – diz o técnico agrônomo Clayton Santos Silva.

A lavoura de algodão de Giovani Fritz também foi atacada pela praga. Ano a ano ele vem sentindo no bolso o custo para tentar controlar. Na safra passada , o produtor teve que fazer oito aplicações, desembolsou US$ 150 por hectare. Esse ano, as plantas ainda estão começando o período da floração e o número de aplicações contra os insetos já é a mesma da safra passada. O produtor já sabe que a lucratividade está comprometida.

– Esse ano, o ataque está mais severo, começou mais cedo e está mais difícil de controlar. Toda semana tem que aplicar e você vai na lavoura e acha o bicudo. Já foram feitas oito aplicações, com certeza vai para 12, 13 aplicações ou mais, pois na hora de destruir a soqueira vai ter que colocar mais uma dose. Se esperava um custo de oito, nove aplicações, agora 13, 14 aplicações aumenta o seu custo e vai tirar o seu lucro – calcula Fritz.

A grande preocupação dos produtores é que ainda não há no mercado um produto eficaz para combater o inseto, o que dificulta o controle.

– Hoje, no mercado, não existe um veneno que seja 100% eficiente no bicudo. Todos esses produtos que a gente está passando na lavoura aí é meio paliativo, mata 60%, 70%, e não deixa um residual. Então, o que passou, matou. E o que não matou, no outro dia ele está produzindo de novo e entrando nas bolinhas da maçã do algodoeiro. Não consegue eliminar 100%, o que não consegue eliminar ele aumenta e aumenta rápido demais – relata Fritz.
 
Enquanto o produto eficaz não surge, a única alternativa eficaz é o manejo correto.

– A princípio, é a destruição de soqueira, tem que se respeitar o vazio sanitário, porque se deixar alguma coisa de algodão, vai servir de abrigo e moradia para a safra nova. E tem que fazer sempre o cuidado em relação às bordaduras, às aplicações, assim que inicia o botão floral tem que ser colocado armadilhas nas entressafras, colocar tubo mata bicudos para identificar as entradas, porque o habitat dele na entressafra é o Cerrado – orienta o técnico agrônomo.