Com o mercado do boi gordo lento e a demanda fraca, recriadores estão enfrentando prejuízos, já que os preços pagos pelo bezerro não cobrem os custos de produção e a alternativa dos pecuaristas é mandar as fêmeas para o abate.
Em Bragança Paulista, no interior de São Paulo, o pecuarista Valcírio Hasckel, enfrenta esse problema com um plantel de 350 cabeças com foco em recria. Os bezerros que ele comprou em 2016, por R$ 1,5 mil, no entanto, são sendo vendidos por R$ 1.750, uma valorização que não cobriram os gastos. “Não cobre o custo, pois peguei o bezerro em alta e, depois do confinamento, ele não dá lucro e ficamos praticamente no prejuízo”, lamentou.
A situação do produtor reflete o cenário atual, onde o mercado de reposição caminha a passos lentos, principalmente por causa da atual baixa no mercado do boi gordo. “Nós temos uma maior oferta de animais, tendendo a crescer ainda mais. Por outro lado, não temos medidas muito altas de abate e uma indústria frigorifica muito menos interessada. As escalas estão mais confortáveis, porque a exportação está em ritmo fraco e, com o negócio dando pouca margem, há pouco interesse dos frigoríficos”, falou o analista da MB Agro Cesar Castro Alves.
Abate de matrizes
O aumento de ofertas para os frigoríficos se deve principalmente ao crescimento no abate de matrizes. De acordo com o diretor de relacionamento com pecuarista da JBS, Fabio Dias, o aumento do preço do bezerro levou o mercado para este lado. “A retenção de fêmeas que aconteceu nos últimos três anos em função do aumento do preço do bezerro provavelmente levou um certo inchaço do rebanho de matriz, isso é natural que uma hora se ajuste, e isso tem um ciclo e isso tá começando agora esse aumento de oferta”, disse
Como os frigoríficos se planejam conforme a demanda, a alternativa vem sendo adiar a compra de animais para o abate. Isso ajuda a explicar porque o preço não está caindo de forma significativa nas gondolas.
“A oferta de carne bovina é direcionada para o que tem de demanda. Infelizmente, a demanda no mercado doméstico não está crescendo e teve até uma redução muito grande em função da crise econômica. Neste período do ano, com o final das férias e a própria quaresma, há um consumo mais controlado das famílias em relação à carne bovina, dificultando a expansão. Com esse cenário, então, mesmo tendo uma oferta um pouco maior de animais para o abate, a gente está amarrado com a demanda”, falou Fabio Dias.