Bovinos: 2016 trouxe preço abaixo do esperado

Bezerro teve desvalorização de 14% em São Paulo, o que fez com que alguns pecuaristas mudassem a estratégia em seus rebanhos

Fonte: Renata Sirtoli/Canal Rural

Após registrar preços altos nos últimos anos, a pecuária de corte começou a sentir os impactos da crise econômica em 2016, o que gerou a queda do consumo interno e pressão na cotação da arroba. Já o boi magro e o bezerro encerraram o ano com desvalorização, com uma receita que caiu 6%, apesar de o volume embarcado ter sido praticamente o mesmo.

Entre janeiro e dezembro de 2016, o bezerro teve desvalorização de 14% em São Paulo, de acordo a Scot Consultoria, o que fez com que alguns pecuaristas mudassem a estratégia em seus rebanhos, como o investimento no cruzamento industrial para compensar a queda de preços. “O mercado todo, no geral, deu uma esfriada e o preço do bezerro caiu. A vantagem do cruzamento industrial é que, por ele ser mais pesado, você produz mais quilos de bezerro e, assim, você consegue um ágil acima do bezerro comum”, falou o gerente de fazenda Daniel Anelli.

Um dos motivos para a baixa nas cotações do mercado de reposição foi a redução do poder de compra do invernista, já que a arroba do boi gordo teve valorização de 5% ao longo de 2016. Número abaixo da inflação e inferior ao desempenho visto em anos anteriores, o preço médio registrado nas principais praças foi de R$ 152.

“O preço da arroba não subiu em função da dificuldade do consumo de carne, o invernista reduziu o ímpeto da reposição e da compra de bezerros e, quando você tem uma redução de demanda, a tendência é que os preços fiquem menores”, disse o analista da Scot Alex Lopes.

O especialista ressaltou ainda que não houve aumento na oferta de bezerros no ano e, sim, uma redução na demanda, gerando uma queda de preço desses animais.

Recuperação?

O preço da arroba não subiu em função da dificuldade do consumo de carne

No último trimestre de 2016, o setor esperava recuperar a cotação da arroba, mas o mercado não correspondeu e, para piorar a situação, o custo de produção da atividade teve alta de 12,5%, diminuindo o poder de compra do pecuarista. “A gente observa desde setembro um mercado muito estável com poucas altas e isso vem de uma dificuldade no consumo. Pagou-se o 13º salário e tivemos as contratações temporárias de final de ano, mas não tivemos a melhora no preço da arroba”, falou Lopes.

Ainda segundo o analista da Scot Consultoria, em 2016 houve redução de aproximadamente 20% no número de animais confinados.

Exportações

Outra notícia nada positiva para o setor foi o desempenho das exportações. Entre janeiro e novembro de 2016, o Brasil embarcou um 1,3 milhão de toneladas de carne bovina ao exterior, mas a receita registrada neste período foi de US$ 5 bilhões de dólares, uma queda de 6% em relação a 2015.

O mais importante da abertura do mercado norte-americano foi a credibilidade

A grande conquista do setor em 2016 foi a abertura do mercado dos Estados Unidos. Depois de quase duas décadas de negociações, o Brasil enviou as primeiras remessas ao país com um pouco mais de 500 toneladas de carne in natura.  “O mais importante da abertura do mercado norte-americano foi o passaporte e a credibilidade que isso trouxe. Nós tivemos alguns movimentos positivos em relação a isso”, disse o presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), Antônio Camardelli.

De acordo com a Abiec, os embarques para os Estados Unidos devem evoluir a partir do segundo semestre de 2017. Além disso, a parceria deve ajudar na abertura de novos mercados.

“Com a abertura de novos mercados, pautados pelos Estados Unidos que garantem esse lastro para que México, Canadá até mesmo Japão em relação à carne in natura”, disse a diretora executiva da Abiec, Liège Vergilli Nogueira. 

No Brasil, os preços da arroba do boi gordo e do mercado de reposição vão depender do desempenho da economia e da retomada do consumo. “Se nós acompanharmos a curva de comportamento de preços históricos, nós podemos ter 2017 com preços firmes. No entanto, se colocarmos na balança estabilidade política e crise econômica, talvez a gente tenha um aceleramento e encurtamento do ciclo com 2017 mais rigoroso do ponto de vista de precificação da arroba do boi”, finalizou o presidente da Scot Consultoria, Alcides Torres.