O Brasil já atingiu uma condição de autossuficiência na produção de arroz e as importações não mais são necessárias, afirma o diretor comercial do Instituto Riograndense do Arroz (Irga), Tiago Barata. Porém, segundo ele, continuam ocorrendo em função do preço que se tem no mercado doméstico, muito atrativo para os nossos vizinhos do Mercosul, como o Paraguai, que conseguem produzir arroz muito mais barato que o cereal gaúcho.
O presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Estado do Rio Grande do Sul (Federarroz), Henrique Dornelles. diz que os paraguaios têm um custo de produção muito inferior ao nosso. “Não têm leis trabalhistas, não têm previdência social, não têm ICMS, eles não têm toda essa complexidade que nós temos”, explica.
Um estudo comparativo entre países do Mercosul feito pelo economista chefe da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Antônio da Luz, mostra que o produtor brasileiro paga bem mais caro por insumos que, em alguns casos, são produzidos no próprio país.
“Nós temos peças que custam R$ 25, R$ 30 e aqui custam R$350, fabricadas no Brasil! Só que quando nós olhamos quanto custa para produzir nos estados Unidos, no Uruguai, no Paraguai e na Argentina, e nós produzimos a um custo bem mais elevado, passamos a exigir níveis de preço muito mais elevados para cobrir os gastos. Só que eu tenho vários outros países puxando esse preço para baixo porque eles conseguem produzir mais barato”, esclarece o economista.
Em 2017, a saca do arroz em casca importado chegou ao país com valor médio de US$ 10, enquanto o arroz produzido aqui alcançou US$ 12. Por si só, o valor do produto de fora já pressiona o preço interno. Agora, que o produtor está prestes a iniciar a colheita, a preocupação só aumenta.
“Por mais que o governo ponha publicidade, números bonitos de liberação de crédito, de volumes superlativos, a realidade que tu vê do produtor não é essa”, desabafa o produtor Álvaro Ribeiro.
O arrozeiro Celso Bartz previa valorização da saca na entressafra, mas a importação impediu a alta do produto. “O custo de produção hoje gira em torno de R$ 46 o saco e nós estamos vendendo a R$ 35”, diz.
Para o Irga, o preço baixo gera dois cenários para esta temporada, que começa em março: as indústrias atrás de preços menores e o setor produtivo em busca de ampliar as exportações do arroz brasileiro. “Acredito que seja uma das características do próximo ano, a gente tendo a exportação novamente como força, como uma via de escoamento intensa, enquanto que as importações devem seguir, mas já em patamares menores”, afirma Barata.
Histórico
O Brasil importou aproximadamente 1 milhão de toneladas de arroz em 2017, sendo que 58% desse volume veio do Paraguai. A compra tem preocupado tanto setor, que já fala em crise na cadeia produtiva. “É irresponsável essa entrada desordenada e sem um controle adequado para o produto mais largamente consumido dentro do país. Já foi comprovado que está entrando, inclusive, arroz embalado como se fosse brasileiro. Isso é crime, é proibido”, afirma Dornelles.