Desperdício e oscilação de preços são os principais problemas apontados por um levantamento inédito da Confederação Nacional de Agricultura (CNA) sobre o cenário da produção de hortaliças no Brasil. Outro ponto que a entidade quer garantir ao setor é o oferecimento de mais assistência técnica.
O estudo foi realizado com base nas 13 principais hortaliças para a economia do país. São 530 mil hectares que representam 65% da área produzida. O mapeamento mostra que a cadeia produtiva de hortaliças no Brasil movimentou, em 2016, mais de R$ 66 bilhões. As empresas fornecedoras de insumos, máquinas e equipamentos agrícolas tiveram o faturamento estimado em mais de R$ 10 bilhões. Entre os produtores rurais das 13 culturas, a receita foi de quase R$ 18 bilhões.
“Entendemos que o estudo é uma ferramenta. E que agora que começará o trabalho. Nós vamos empoderar o produtor rural e toda cadeia de hortaliças com informações sobre o setor. Isso ajudará a melhorar as políticas públicas para essa cadeia produtiva, para que ela triplique nos próximos 10 anos. Esse é o nosso desafio”, diz o presidente da Comissão Nacional de Hortaliças e Flores, Luciano Vilela.
De acordo com o estudo, é preciso levar ao conhecimento da população a importância para a saúde do consumo diário de hortaliças e frutas. O brasileiro consome atualmente em torno de 150 gramas, enquanto o recomendado pela Organização Mundial da Saúde é de no mínimo 400 gramas diários.
“A horticultura é pequena em valor comparada a todos os outros ramos do agronegócio. Mesmo assim ela é muito grande de importância e no impacto que tem em tantas vidas dentro do Brasil”, diz o presidente da Associação Brasileira do Comércio de Sementes e Mudas (ABCSEM) e autor do estudo sobre hortaliças, Steven Udsen.
O setor reclama do grande desperdício de hortaliças. Alface, coentro e couve flor, por exemplo, registram perdas de 35%. Um projeto de lei sobre embalagens destinadas ao acondicionamento de produtos como esses, tramita na Câmara dos Deputados desde 2012. A aprovação desse projeto seria uma maneira de diminuir o desperdício, reduzindo o uso de caixas de madeira e substituindo por embalagens recicláveis.
“Temos um problema muito sério de desperdício no país. Ele representa de 30% a 40% de tudo o que se produz. Um dado importante desse estudo, é que em torno de 20% a 30% se perde dentro da produção. Não tínhamos conhecimento desse volume”, conta Vilela. “A gente está focado na questão do armazenamento e do transporte das hortaliças. Entendemos que 50% do desperdício, acontece da porteira para fora, em função da embalagem inapropriada.”
As mudanças climáticas, que afetam diretamente na produção agrícola, também é um tema estudado. “O produtor ainda terá, sem dúvidas, muitas dificuldades com relação as mudanças climáticas, dificuldades com relação a água. Mas, estamos bastante otimistas que 2018 será um ano bem melhor do que foi esse”, diz o chefe geral da Embrapa Hortaliças, Warley Nascimento.
O presidente da CNA disse que é preciso dar atenção a estes produtores e investir em assistência técnica gratuita. “É o pequeno produtor que mais precisa de assistência técnica. Nós precisamos levar ao campo toda a tecnologia que vai gerar menor impacto no agronegócio, vai gerar melhor aproveitamento do solo, mais produtividade. Então essa é a função da CNA”, conta o presidente da CNA, João Martins.
A meta do setor é em um período de três anos, chegar a 400 mil propriedades assistidas no país. “Estamos avançando em termos de parcerias para ajudar no custeio dos dois primeiros anos. A partir daí, a ideia é que os produtores, formem um grupo e assumam o pagamento do técnico de campo”, finaliza Daniel Carrara, diretor geral do Senar.