Alta produtividade e bons preços marcaram a cafeicultura brasileira em 2016. Apesar da queda de produção em algumas regiões, o país encerrou a safra com quase 50 milhões de sacas de café. Já a valorização do dólar favoreceu a comercialização do grão e garantiu maior renda aos produtores.
O cafeicultor Mário Guilherme Ribeiro, de Guaxupé (MG), teve uma produtividade da safra 2016 de 25 sacas por hectare. O produtor negociou todo o volume ao preço médio de R$ 560, 15% a mais que em 2015. “Tivemos bons preços, principalmente nos meses de outubro e novembro. Os preços se recuperaram e chegaram a R$ 600 a saca. Quem esperou para vender conseguiu um preço médio muito bom”, analisa o produtor.
A maior dificuldade enfrentada pelo produtor foi no período da colheita. O excesso de chuvas na região prejudicou a qualidade dos grãos. “Em termos de qualidade, foi o pior ano, se comparado aos últimos. Nós produzimos pouco café-cereja descascado, que tem uma procura muito grande no mercado e bastante rentável ao produtor”, conta Mário Guilherme Ribeiro.
Apesar de prejudicar a colheita do agricultor, o clima foi fator decisivo para o aumento da produção nessa região. De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o sul e o centro-oeste de Minas Gerais encerraram a safra com mais de 16 milhões sacas de café colhidas – volume 53,8% maior em relação à temporada passada.
Para o presidente da Cooperativa Regional dos Cafeicultores de Guaxupé (Cooxupe), Carlos Alberto Paulino, 2016 foi um ano bom para todos da região. “Nós colhemos muito bem. Os preços tiveram picos de preços bons. Os cooperados e os produtores da região de uma maneira geral aproveitaram e venderam”, diz.
No Cerrado mineiro, a produção cresceu quase 75%. Além do clima, o uso de tecnologias foi determinante para uma colheita maior.
Minas Gerais encerrou a safra 2016 com quase 29 milhões de sacas produzidas, alta de 30% em relação ao ciclo passado. O desempenho do estado foi fundamental para o crescimento da produção nacional. De acordo com a Conab, o país totalizou 46,6 milhões de sacas beneficiadas de café. A área cultivada ultrapassou 2 milhões de hectares.
Embora a safra nacional tenha crescido, a produção de café conilon registrou queda de 25%. O Brasil encerrou a temporada 2016 com pouco mais de 8,3 milhões de sacas da variedade, 25% a menos que no ciclo anterior. No Espírito Santo, um dos principais produtores de conilon do país, o volume ficou 30% abaixo do esperado por conta da seca.
A baixa oferta fez os preços atingirem patamares recordes no mercado. Em novembro, a saca de 60 kg do produto foi negociada a R$ 550, alta de 40% em relação ao mesmo mês em 2015.
“Um mercado que tem potencial para 20 milhões de sacas produziu menos de 12 milhões de café conilon. Isso foi péssimo e fez com que o preço subisse muito. A indústria e os consumidores que precisavam se abastecer vendo esse preço subir correram para o arábica, fazendo o preço do arábica subir também”, aponta o diretor da Pharos Consultoria, Haroldo Bonfá.
A baixa oferta de conilon no mercado afetou os custos das indústrias do setor. Outro ponto negativo foi a queda nas exportações. Os embarques diminuíram cerca de 9% em 2016. Para o diretor executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café, Natan Herszkowicz, o ano não foi bom para a indústria.
“Estamos com essa crise de desabastecimento e falta de matéria-prima, aumento de custos e uma crise econômica que não encontra solução em curto prazo. Para 2017, nós sabemos que vamos ter os mesmos problemas”, comenta.
Analistas do setor acreditam que 2017 será um ano de baixa oferta no mercado. O cenário pode favorecer os agricultores com preços mais altos, principalmente no primeiro semestre.
“Temos uma oferta muito restrita de conilon porque a safra só vai iniciar em maio. Nesse período, poderemos ter pressões muito fortes nos compromissos assumidos, e pressionar preço favorecendo o produtor”, projeta Bonfá.