Um levantamento da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo) indica que 34 unidades voltadas ao abate e processamento de bovinos fecharam as portas ou deram férias coletivas aos funcionários neste ano. As empresas afirmam que os motivos são a baixa oferta de animais e a diminuição do consumo de carne bovina.
Só que a situação pode ser ainda mais complicada. Algumas consultorias apontam que mais de 40 plantas foram desativadas só em 2015, o que afeta cerca de 20 mil trabalhadores. A JBS informou que nesta semana vai dar férias coletivas para 400 funcionários da unidade de Nova Andradina, em Mato Grosso do Sul. No mesmo estado, a Minerva encerrou as atividades no município de Batayporã. A empresa já tem três unidades paradas.
– Os fechamentos estão ocorrendo em razão da diminuição do consumo do mercado interno. Essa é a base. E teve também um descompasso na pecuária, que o preço do boi subiu mais do que a carne no mercado interno. E, com a crise do consumo, esse reflexo vai muito mais acentuado no menor frigorífico, ou seja, aquele que só abate pro mercado interno – explica o presidente do Conselho do Frigorífico Minerva, Edivar Vilela de Queiroz.
Já para Alcides Torres, da Scot Consultoria, a situação não é tão ruim quanto parece. Ele diz que o mercado passa por um momento de ajuste e o fechamento de certas unidades pode aumentar a eficiência das sobreviventes.
– A gente sempre teve no Brasil uma ociosidade exuberante dos frigoríficos. Então, esse fechamento, do ponto de vista da pecuária nacional, não afeta muito o desempenho brasileiro em termos de carne bovina, é claro que aquele pecuarista que entregou para o frigorífico que quebrou vai sentir o drama. Mas os frigoríficos até que estão fechando sem quebrar. Esses frigoríficos estão simplesmente encerrando atividade, dispensando o pessoal, então, frigoríficos pequenos, de pequeno porte, independentes, até mesmo unidade – reflete Torres.
O que tem segurado a receita dos frigoríficos são as exportações. Mesmo assim, elas não andam tão bem quanto no ano passado, quando bateram recorde. O último levantamento da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec) mostra que o faturamento em maio, com o envio de carne ao exterior, foi 24% menor em relação ao mesmo mês do ano passado. Na soma dos cinco primeiros meses do ano, o Brasil exportou 14% menos que em 2014.
– Faz tempo que a gente não tem passado por uma crise como essa. Mas o Brasil já teve essas situações e o que nos salvou, e o que está salvando neste momento, chama-se mercado externo. Nossa empresa, especialmente, tem mais de 15 distribuidoras no mundo todo. Europa, Oriente Médio, Rússia e muitos outros países – acrescenta Queiroz.
De acordo com a Carta do Boi de julho, análise divulgada nesta segunda, dia 6, pela Scot Consultoria, além da ociosidade das plantas frigoríficas e dos preços vigentes da arroba, que elevam os custos, a crise econômica também reduziu o crédito e o tornou mais caro. “Os frigoríficos estão com dificuldes em repassar o aumento de custos para a carne. Apesar de o preço ter aumentado, a demanda está lenta ou migrando para cortes cujos preços são menores, devido à situação financiera da população”, diz o relatório.
Segundo a Scot, quando os estoques de carne estão elevados, é preciso comercializar a carne a preços de liquidação, que prejudicam as margens. “Frigoríficos de grande porte superam este cenário utilizando ativos em caixa, entretanto, frigoríficos pequenos não possuem tanto caixa assim.” A consultoria afirma que os estados com mais paralisaçõe são Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Rondônia e Rio Grande do Sul.
“Dependendo da região, os produtores estão reféns dos preços ofertados pelos poucos frigoríficos ativos. Curtumes e industrias de derivados sofrem também”, diz o relatório. Além das plantas fechadas, várias outras ainda em operação reduziram o abate. A crescente ociosidade fez com que as empresas ajustassem a rotina de trabalho. O abate foi redirecionado para outas unidades. A menor oferta de bovinos e a demanda preocupante fazem com quem algumas unidades em Mato Grosso do Sul abatam três vezes por semana. Outras plantas reduziram os turnos de trabalho para se adequar ao novo cenário.