Produtores do Distrito Federal encontraram uma nova opção para fazer rotação de plantio com a soja. Com o apoio da Embrapa e da indústria cervejeira, eles ganharam uma alternativa de renda antes do início da safra da leguminosa.
Leomar Cenci é um dos que resolveram apostar na cevada. A planta tem ciclo de 110 dias e exige irrigação, mas não em grande quantidade. “O que mais pesou na decisão foi mesmo a questão hídrica; o trigo, por exemplo, demanda uns 400 milímetros de água, e a gente tirou (do campo) a cevada com 200 milímetros”, afirma.
A cevada é uma planta típica do clima frio, mas a cultivar BRS Brau, desenvolvida pela Embrapa, apresenta maior resistência ao calor. No Planalto Central, conta ainda com ventos e temperaturas mais baixas à noite.
O engenheiro agrônomo Cláudio Malinski afirma que a cevada, para ser cultivada o Centro-Oeste, precisa encontrar altitudes de pelo menos 600 metros acima no nível do mar. Num raio de 200 km ao redor de Brasília, a altitude está em torno de 1.000 metros. “Isso compensa a distância que temos do frio, compensa a falta de frio”, diz.
Não falta demanda para o produto no Cerrado. Uma indústria de cervejas pretende, inclusive, aumentar a área de produção na região central do Brasil, alcançando 25 mil hectares nos próximos anos. Por enquanto, a lavoura é experimental: a expectativa é de chegar a 70 sacas por hectare. Mais importante para a indústria do que a quantidade de produto, entretanto, é a qualidade. O grau de proteína ideal do grão é de 12%, índice atingido com adubação moderada.
O agrônomo Malinski afirma que é preciso tomar alguns cuidados com a adubação nitrogenada, que não pode passar de 50 kg de Nitrogênio por hectare. “(Mais do que isso) Pode aumentar o teor de proteína no grão, o que é indesejável, a cerveja fica mais amarga”, diz.
Após a colheita, os resíduos orgânicos deixados pelo cultivo da cevada vão facilitar o plantio direto de outros produtos, como a soja. O produtor Leomar Cenci afirma que, além da palhada, a cevada também colabora com seu sistema radicular agressivo. “Essa raiz vai fazer com que, no momento que cair a chuva, haja uma infiltração melhor da água, fazendo com que a gente produza mais soja”, diz.